segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Lições de nenenzês


O terceiro mês de Luca trouxe várias novidades, mais do que o primeiro e segundo juntos. É bacana perceber como ele interage mais e presta mais atenção ao que acontece à sua volta. E cada  vez que algo lhe chama a atenção, lá vai a mão pra boca... Parece que é o jeito que ele tem de demonstrar que está experimentando algo novo, rsrsr... Bom, tudo bem que de vez em quando é só fome mesmo.

Nesse mês, investimos na idéia de que a rotina faz muito bem aos bebês, e a coisa tem dado certo. Depois do pacto do mês anterior para a ginástica da mamãe, passamos a ter horários mais ou menos regulares para acordar, tomar banho e brincar no tapetinho de atividades, aquisição mais que bem sucedida para essa fase, na qual qualquer estímulo que tenha cores ou sons deixa o bichinho vidrado.

Então, após a mamada matinal, fazemos exercícios, seja no parque, seja a  caminhada aqui por perto de casa, e sempre rola uma soneca no carrinho, uma delícia. Ao retornar, ele fica brincando no dito tapetinho enquanto eu tomo um banho e faço um lanchinho para repor as energias – registro que nem sempre essa última parte eu consigo fazer sem ele no colo... e mamando.

E de brincadeira em brincadeira, Luca está quase se virando, para tentar alcançar alguns objetos que estão no tal tapete. E anda ficando muito bravo porque ainda não conseguiu completar o movimento... Mas se assusta se eu o faço virar. Quase todo dia eu o coloco de bruços para fortalecer a musculatura das costas e o avanço é impressionante. Nos últimos dias ele parece um pavão, de tanto que levanta a cabeça quando está de barriguinha pra baixo... E de vez em quando ele já se desvira sozinho, não sem tomar um bom susto por causa disso também, rsrsr... mas tudo bem, porque se ele chora, sempre tem o colinho da mamãe bem rapidinho para acalmá-lo...

Ele já anda tentando pegar alguns objetos, interage com os bichinhos, mas reclama muito porque suas mãos ainda não obedecem suas vontades... mas fez avanços esse mês, e alguns objetos, por vezes, já chegam até a boca. Os pés foram a grande descoberta do mês: passamos algumas tarde e outras madrugadas tentando entender o que é aquilo que parece uma mão, mas que fica mais longe e ele ainda não consegue por na boca... 

Nosso personagem agora também é professor: ministra, diariamente, aulas de nenenzês, através de sons, grunhidos, tons agudos e muitos outros. Vamos tentando acompanhar e, quando acertamos a lição, Luca responde dando risada, fazendo barulhinhos, balançando o corpo todo e dando uns impulsos pra trás que ai de quem não estiver atento... Ah sim, ele já não está mais gostando dessa idéia de ficar o tempo todo deitado. Até no tapetinho o prazo de validade tem diminuído. Aí, se colocamos várias almofadas, ou um encosto na almofada de amamentação, ele já fica sentadinho, muito atento olhando slides de fotos no computador ou então assistindo Discovery Kids e os canais de notícias, seus preferidos...

Quando vai chegando perto do almoço, Luca toma banho, de balde, se preparando para a soneca da tarde. O tempo dessa soneca varia muito, e tem semana que dura umas boas 3 horas, e aí ele acorda, mama e descemos pra um solzinho... Outros dias, dura uma hora, ele mama e dorme na sequencia, numa soneca meio picada, e outros dias, dorme hora nenhuma, chegando ao limite da irritação no fim do dia porque não pregou o olho... Definitivamente, Bolota puxou à mãe...

No que tange ao amor pelo banho, a coisa não foi inata, não. Luca aprendeu a gostar de entrar na banheira mesmo só esse mês, pois no começo ele não curtia muito. Assustava bastante, talvez pela insegurança dos pais inexperientes em segurar o menino todo escorregadio – no primeiro mês eram os dois pra dar banho nele!.... E a gente não forçava muito, até porque no começo ele só queria saber de mamar e dormir. Então fomos deixando ele indicar pra gente a necessidade dele. Mas antes que nos acusem de estarmos criando um cascãozinho, quero deixar claro que ele nunca passou mais de dois dias sem ver a água na banheira... e entrar nela...

Hoje em dia, além do banho de balde, ele toma outro, mais à noite, na banheira, pra ir dormir limpinho e fresquinho. Exceto quando está com muita fome, muito sono ou algum incômodo muito forte, ele se diverte molhando o cabelo, o rostinho, a barriguinha e as dobrinhas, que se multiplicam a cada dia... tudo acompanhado de muita conversa no melhor nenenzês que eu aprendi a falar até agora...

Depois de cada banho, Luca tem direito a um vale-massagem, que ele utiliza quando está com paciência pra tal. Sim, porque tem dia que a agonia pelo peito é tanta que eu já agradeço se consigo vesti-lo antes dele abrir o berreiro... Mas quando rola, é uma delícia, pra ele e pra mim, que tenho uma ótima desculpa pra ficar pegando naquele corpinho todo gordinho e gostosinho...

Bem, não me perguntem como, mas de uma hora pra outra parece que Boluca virou um polvo, pois adquiriu muito mais braços e pernas do que tinha quando saiu de dentro de mim... mexe todos ao mesmo tempo e é uma dificuldade pra conseguir limpá-lo quando vamos trocar a fralda e, pior, colocar a fralda limpa, porque tem vezes que o guri ‘trava’ as pernas e é impossível fechar a dita cuja desse jeito... Ele também costuma entrar em modo polvo quando está mamando, e é uma agitação tão grande – com direito a gritinhos mais ou menos irados, a depender do momento – que o bichinho nem consegue sugar o peito direito. Quando isso acontece, das duas uma: ou precisamos de uma pausa para o arrotinho, ou o sono pegou de  verdade... geralmente são as duas coisas juntas...

Ao fim do dia, os encontros com o papai quando ele chega do trabalho são momentos de excitação pura. Geralmente Edu chega no fim do banho ou já na hora da mamada antes de dormir, e aí quando ele se senta ao meu lado no sofá, Boluca não sabe se suga o peito ou se torce o pescoço pra ver o pai. Nessa horas, a gente sempre estica um pouco a hora de dormir, para eles poderem se curtir. Só não rola quando o cansaço tá muito grande... E quando Edu viaja? Ele não parece perceber a ausência do pai no dia-a-dia, mas o reencontro é marcante,  seja a hora do dia ou da noite que acontecer. Ainda que às vezes Eduardo não acredite, eu que passo o dia todo com ele, me impressiono com o vínculo existente entre eles.

Bem, mas apesar da rotina que temos tentado seguir mais ou menos à risca, sempre tem os imprevistos. Esse mês ele bagunçou o coreto algumas vezes, ficando sem dormir duas noites seguidas, história que eu contei em “Uma rave sem aviso prévio”. Depois passou algumas noites acordando duas ou mais vezes de madrugada pra mamar – coisa que só tinha acontecido durante as primeiras semanas -, deixando a mamãe aqui profundamente irritada e sem paciência, não com o neném, claro, mas com a privação de sono, que me deixa desnorteada mesmo... Mas já passou e esse mês ele tem dormido super bem, média de 8 horas seguidas. Outro dia nos agraciou com uma noite completa: foi dormir de noite e só acordou de dia.

No mais, Luca tem saído bastante para conhecer o mundo, quase sempre agarradinho na mamãe, dentro do sling. Acho que essa deve ser uma invenção quase tão antiga quanto ter filhos e nós, mulheres ocidentais, só estamos adotando-a pra valer agora. Além de ser uma delícia ficar coladinha no seu bebê, o sling nos deixa com as mãos livres para fazer outras coisas. Já cansei de andar com ele pendurado dentro de casa, quando ele estava nos dias mais difíceis,  e fazia mil coisas com ele amarrado em mim, inclusive comer.

Tal qual o banho, o gosto pelo sling não é inato (apesar dele ficar quase na mesma posição de quando estava na barriga), e foi preciso ir introduzindo o artefato aos poucos... Primeiro quando estava dormindo, depois passeando dentro de casa mesmo, até ganharmos, juntos, o mundo. Hoje ele adora, exceto quando está com fome, porque aí o cheiro do leite deve ser uma tortura pro bichinho... ou quando está com sono, porque com sono ele não gosta de nada mesmo... Já falei que ele é igual a mamãe nesse quesito? Enfim, e o carrinho mesmo só usamos quando vamos comer fora, para ele ter onde ficar enquanto a gente come – já que ainda não sabe sentar – e durante a ginástica da mamãe que, diga-se de passagem vira uma verdadeira corrida com obstáculos tamanha a falta de qualidade de nossas calçadas...

Nessas andanças, Boluca já conheceu um bocado de tios e tias e até ao cinema já fomos juntos, assistir Os Smurfs, no projeto Cinematerna, do Cinemark, que rola em várias cidades do Brasil. e não é que ele prestou a maior atenção no filme? Não todo, é claro, mas me surpreendeu. Eu é que achei trampo demais ir só com ele, e acho que vou de novo se estiver muito a fim de ver o filme da sessão, ou se Edu estiver junto.

De toda forma, é muito engraçado ver como em dias assim, de lugares e pessoas novas, ele capota depois que chega em casa. Deve ser o jeito dele de processar tanta novidade. Ele ainda não interage muito, mas salta aos olhos de todos como ele é um menino compenetrado, que  fica encarando tudo que é novo. Olhos esbugalhados, bicão e, de vez em quando, um sorriso.

Bom, por fim, esse terceiro mês trouxe também a capacidade de imitar alguns barulhos que a gente faz pra ele e, o mais gostoso, a primeira gargalhada... boquinha aberta e risonha, olhinhos fechados e muita excitação...  quando a gente ri junto, ele para e olha sério. Hahahaha... Com o fim do primeiro trimestre de vida, está vindo também a consciência de que não mora mais numa barriga... a transição não está sendo fácil e o remédio tem sido muito peito, muito colo e muita paciência, pra que a coisa flua bem e ele supere esse momento. Então nem preciso dizer que as reclamações também andam mais enfáticas e potentes. Boluca não economiza quando quer mostrar sua insatisfação com alguma coisa, dando os primeiros sinais de sua personalidade... Basta ser contrariado naquilo que estava esperando ou desejando que acontecesse, que a gritaria é certa. É... e para bom entendedor, meio grito é suficiente...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Primeiras peripécias

Outro dia recebi um email que achei um barato. A mãe, hiperativa como esta que vos escreve, se dedica a, uma vez por mês, registrar as principais ocorrências com seu pimpolho, um sorridente guri de 8 meses de idade. Eu, que sempre gostei de escrever e até criei um blog para registrar minhas impressões e sensações sobre a gravidez e maternidade, adorei, e resolvi copiar a idéia. Fico pensando que Luca poderá curtir esses relatos quando tiver idade para entender. Ou o contrário, vai odiar essa mãe bocão, que fica contando todos os micos dos seus primeiros meses de vida. Bem, mas vou correr o risco. Na pior das hipóteses, quando ele tiver idade pra entender, quem vai curtir lembrar desses dias serei eu...

Bem, o que acontece é que Luca está com quase três meses e vai ser difícil resgatar o que aconteceu até aqui de forma sistemática. Assim, esse primeiro texto tratará de relembrar um pouco do primeiro e do segundo mês e, a partir do próximo, farei a coisa mensalmente. Espero que ele deixe!

Eu já contei aqui que Luca nasceu em casa, mas acho que não mencionei que o primeiro mês foi passado praticamente inteiro dentro do apartamento. Eduardo tirou uma licença paternidade por conta própria – como é bom trabalhar para si mesmo! – e ficou os 30 primeiros dias de vida  de Luca lambendo a cria e cuidando da mamãe aqui, pra que ela pudesse comer bem pra ter bastante leite, e pudesse dormir quando o neném dormia.

Saímos pouquíssimas vezes, uma pra tomar vacina, outra pra resolver burocracias de licença-maternidade – afinal, eu tenho chefe – e umas outras duas, sempre muito rápidas. Nessas saídas, descobrimos que o carro era um ótimo sonífero para recém nascidos, pois era Luca entrar, pra não mais acordar. Não que ele tivesse problemas para dormir nesse começo, pelo contrário, era mamar e chapar, no carrinho, no berço, na nossa cama... infelizmente, quando foi chegando perto de completar um mês, tudo mudou, e a gente teve que descobrir alguns truques pra fazer o bebê capotar – e nos deixar dormir também...

Uma feliz descoberta do mês foi o livro da Laura Gutman – A maternidade e o encontro com a própria sombra -, excelente para lidar com os hormônios do puerpério e descobrir que sim, o neném sente tudo que a gente sente, o que nos obriga a assumir uma outra postura diante da vida se quisermos ter alguma tranquilidade. Porque o nervosismo, quando vem, chega em dobro, literalmente – o nosso e o deles. O segundo achado foi o Dr. Karpp, autor do livro “The happiest baby on the block”, no qual eu aprendi a enrolar Luca bem apertadinho no cueiro e a fazer “sshhh, sshhhh” no ouvido dele quando ele ameçava despertar, expedientes valiosíssimos adotados após cada mamada sonífera...

A outra descoberta é que eu não tinha parido um bebê humano, mas um bezerro, que não desgrudou do peito praticamente o mês inteiro. A mamãe aqui, determinada a amamentar exclusivamente por 6 meses, resolveu sublimar, e não foram poucas as vezes que o peito vertia leite e os olhos, lágrimas. Me convenci que só assim, me entregando a todos os sentimentos, bons e ruins que aparecessem, pra não secar o leite, e assim seguimos muito bem até hoje, obrigada. Os mamilos ficaram resistentes após contraírem um fungo, e hoje ele mama feliz da vida, me fazendo rir a cada vez que me olha com aquela boquinha vazando leite...

No mais, foi um mês sem muita rotina, apenas seguindo as orientações de Luca quanto aos horários de comer e dormir. Eduardo cozinhava enquanto eu dava de mamar e, quando ele dormia, a gente comia, e depois eu dormia. Quando ele não dormia, a gente se revezava na mesa pra comer e depois lá ia eu tentar fazer o guri dormir de novo.

Por fim, quando a coisa tava realmente bagunçada, lá pela terceira semana, e Luca não largava o peito e eu me sentia exausta, decidimos tentar uma chupetinha. Passamos a gravidez inteira demonizando a dita cuja, pra pagar a língua tão cedo... que raiva, mas íamos tentar com uma chupeta cheia de frescuras, pra não atrapalhar a amamentação, não dar problema no céu da boca etc., etc., etc... Fizemos uma rápida pesquisa e tenho certeza que  compramos o produto mais caro disponível. Trouxemos o artefato para  casa, faceiros e certos de que assim, ele sossegaria. Ferve água, esteriliza o objeto, pega o neném, põe no colo, oferece a chupeta e... Luca mostra para mamãe e papai uma habilidade inata: arremesso à distância. A gente é brasileiro e não desiste nunca, até hoje apelamos pra ela em momentos de desespero... mas acontece que Luca também é brasileiro... e foi aperfeiçoando-se na técnica de cuspe de chupeta à distância. E, no final das contas, acabou que ela nem foi tão necessária assim.

Pra fechar o mês, na primeira consulta com a pediatra, que já tinha sido escolhida no sexto mês de gravidez, saímos orgulhosos de constatar o que nossos olhos não nos deixavam com dúvidas: o leite materno é realmente poderoso, pois nosso filho havia ganhado mais de 1 kg e crescido 3 cm.

No segundo mês, eu me vi às voltas sozinha com um bebê em casa. Dar de mamar, trocar fralda, dar banho, por pra dormir, brincar – bom isso nem tanto, porque bebês nessa idade só querem saber de peito – e ainda comer e tomar banho pareciam coisas inconciliáveis. Pra piorar, Luca passou uma semana sem tirar uma sonequinha sequer à tarde, aumentando minha agonia. Mas até que nos viramos bem, pois de noite ele estava dormindo entre 6 e 8 horas seguidas. Pra mamar, bem, pra mamar ele nunca teve problema...

Na segunda semana, vovó Beth – minha mãe – chegou de São Paulo cheia de dengos para o primeiro netinho e de mimos para a mamãe aqui. A empatia entre os dois foi imediata e eu só fiquei observando como é que se dá uma canseira em um bebê... Luca voltou a dormir de tarde, e o melhor, continuou dormindo um monte de noite. Tem coisas que só a sua mãe faz pra você... Vovô João e tia Paula se juntaram à família Buscapé e o que se via era um bebê literalmente boquiaberto com tanta gente nova por perto...

Nesse mês, as saídas aumentaram, incluindo banhos de sol de manhã ou no fim da tarde, e alguns almoços fora de casa, que mamãe também precisa olhar um pouco o mundo, pra lembrar que ele existe...

O segundo mês de Luca no mundo foi também o mês do aniversário da mamãe. Bem, 31 anos não tem o mesmo glamour que os 30, e com um bebê no colo, minha maior comemoração, eu não estava esperando muito coisa... Tivemos visitas nesse dia, mas o principal acontecimento foi a deferência de Luca com sua progenitora, presenteando-a com um jato amarelo de cocô que se espalhou por todo o quarto e por pouco não acerta o papai, que estava ingenuamente trocando uma fralda. Vovô João, por SMS,  deu a sentença: fica tranquila que é só o primeiro. Bem, ainda não fomos agraciados novamente, mas o episódio serviu pra ficarmos mais espertos quando ele resolve fazer força...

Esse mês foi particularmente interessante porque nosso protagonista começou a esboçar sorrisos, e também a interagir mais, emitindo sons diversos, e por vezes dando a todos a impressão de que iria falar! Hahahaha... Os sorrisos eram puro interesse, pois ele só fazia isso quando sabia que o pegaríamos no colo ou daríamos de mamar. E ai de quem não entendesse o recado: seria alvo de suas potentes cordas vocais! Engordando a cada dia, ganhou um apelido: Bolota. E, para fazer frente ao ganho de peso, que já passou dos 6kg, exercícios diários para fortalecer a musculatura do pescoço. Até que ele não se queixa de ficar de bruços, mas é bom registrar que a paciência dele nessa posição ainda é pouca...

A retomada dos exercícios físicos pela mamãe, para recuperar a forma perdida com a gravidez – ou então ganhar uma nova, desde que o manequim volte a ser o mesmo - foi outra novidade. Descobrimos uma ginástica super legal, que rola no Parque da Cidade, aqui em Brasília, que incorpora os bebês nos exercícios. A gente leva eles no carrinho, sai pra fazer caminhada, corrida, trabalhando as partes do corpo onde oestrago é maior... No começo Luca estranhou um pouco ter que ficar no carrinho tanto tempo seguido, e chorou bastante, não deixando a mamãe aqui fazer a aula completa. Mas já no terceiro dia entramos num acordo: eu deixava ele de barriga  cheia antes da aula e ele topava ficar no carrinho por uma horinha, deixando a mamãe se exercitar.

A parceria deu tão certo que passamos a sair todos os dias pela manhã pra passear: três dias na ginástica, dois dias uma bela caminhada nos arredores de casa. E, na volta, ele ainda me deixa tomar banho e comer uma frutinha para repor as energias antes da mamada pós-exercício... Que filhote tão bonzinho que eu tenho, rsrsrs...

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Por uma razão instintiva

Nessas andanças com Luca por aí, tenho visto e ouvido muitas histórias sobre gravidez, parto e amamentação, e no vasto mundo da internet, o que não faltam também são artigos provocando reflexões importantes sobre esses momentos, comum a todos os mamíferos. E tenho pensado que nós, humanos, seres mamíferos dotados de razão, talvez por essa mesma razão sejamos os animais com maior dificuldade para levar adiante esses processos, que são tão instintivos. Ao longo de milênios, as mulheres levaram adiante a humanidade gerando, gestando, parindo e alimentando sua cria, e eis que chegamos à civilização contemporânea e bum!, parece que tudo mudou.

E eu, vendo tudo isso, sabe, preciso desabafar.

Passou-se a esperar de nós um comportamento pré-determinado e racional, além de recatado, suave e submisso, deixando a tarefa de parir aos médicos – homens, pois demorou até que algumas de nós se tornassem médicas – depois que as parteiras também foram excluídas desse processo tão natural, tão fisiológico. A partir daí, começaram um sem número de intervenções, de agressões, de invasões ao nosso corpo – agulhas, bisturis, cortes, amarras... e traumas, muitos traumas, fazendo boa parte de nós pensar no parto como uma experiência de sofrimento, não de superação. Fazendo-nos pensar na amamentação como uma prisão, não como um ato único de amor, do qual somente nós mulheres, somos capazes.

Junte-se a isso toda a propaganda dos meios de comunicação sobre o momento do parto. Tal qual o sexo, o parto e a amamentação também são profundamente idealizados, coisa  de donzelas, e mais recentemente, de mulheres autônomas e com carreiras bem sucedidas, que se viram nos 30 para conciliar tantas jornadas. Deixa-se totalmente camuflado o lado mais irracional da coisa, o lado bicho-fêmea, que todas nós temos dentro de nós, e que precisamos explorar e expressar se quisermos viver essa experiência por inteiro. O tal do instinto materno, sabe?

Mas esse tal de instinto, atualmente, anda muito em baixa, banalizado e distorcido nas capas de revistas e nos temas de novelas, ao procurar impor a nós mulheres um estereótipo de mãe que simplesmente não é plausível. O parto que acontece LOGO DEPOIS que rompe a bolsa, a chegada de um neném angelical, silencioso e limpinho para os braços da mãe, que amamenta com um sorriso nos lábios SEMPRE. E, quando nos rendemos a esse formato, simplesmente deixamos de acreditar na capacidade que nosso corpo possui de gerar, gestar, parir e alimentar nossa cria.

E aí, quando a bolsa rompe e o neném demora a nascer, logo achamos que não temos dilatação; quando ele nasce, e não mama – após, registre-se, ter sido submetido a uma separação brusca de nossos corpos, e a toda sorte de intervenções -, damos-lhe fórmulas, pois nosso leite é fraco, ou porque o neném não gosta de mamar no peito.

Oras, mas então como é que a humanidade chegou até aqui quando não existiam bisturis nem mamadeiras?

Bom, claro que existem histórias e histórias, dificuldades existem, e a ciência está aí para nos ajudar a superar essas dificuldades e, muitas vezes, salvar vidas. Mas. afora os casos em que há riscos concretos para mães e bebês, ajudar é totalmente diferente de nos alijar de um processo que é nosso, de fato e de direito. Toda mulher é capaz de parir. Toda mulher tem leite. As coisas às vezes podem não fluir com perfeição, mas com incentivo e apoio emocional dos que nos cercam e nos assistem, tudo pode ser superado. Enquanto algumas de nós continuar duvidando disso, continuaremos sendo controladas por um sistema que busca apenas o lucro, seja com as desnecesáreas, seja com as fórmulas que imitam o leite.

Não, não é fácil parir. Não, não é fácil amamentar. Sim, as contrações doem, são demoradas, o processo de transição para expulsar o bebê é uma loucura e nos faz crer que não vamos sobreviver àquele momento. Sim, os bebês sugam com uma força inacreditável para seres tão pequenos e supostamente indefesos; os mamilos ficam sensíveis, podem rachar e apresentar fungos em função do contato com a boca do bebê e o ambiente úmido criado pelo sutiã e pelas roupas.

Mas, sim, é preciso aguardar o sinal do bebê que ele está pronto para vir, e essa espera pode gerar muita angústia e nos fazer pensar que esse momento jamais virá. E, sim, é preciso ter paciência e esperar o tempo do mamar do bebê, que pode ser de 8 minutos de relógio, como disse a pediatra de Luca sobre outro paciente dela, como de 1 hora, como já vi meu filho ficar no meu peito – e sem dormir – pra recomeçar meia hora depois.

Seguir nossos instintos, porém, por vezes, desconcerta aqueles que estão por perto, acostumados a uma  sociedade mecanizada, onde o bom é conseguir prever e controlar processos. E acabam nos constrangendo a fazer o oposto do que nosso instinto fêmea nos diria pra fazer, se estivéssemos atentas a ele. Uma mulher, nua, suada, descabelada, gritando para expulsar seu bebê de dentro dela não é uma imagem fácil de lidar. Então é melhor, num momento em que estamos extremamente vulneráveis e fragilizadas, fazer o que esperam de nós, e aceitar a assepsia do centro cirúrgico do hospital, dos bisturis esterelizados, da suposta ‘limpeza’ do ambiente, do conhecimento do médico, que sabe o que é melhor para nós e nossos filhos.

Na sociedade da velocidade, não se  conta mais a gravidez em meses, mas em semanas; não se tem mais um mês provável para o parto, mas sim uma data; passou dela, é hora de internar, pois o bebê corre risco dentro desse corpo feminino, incapaz, defeituoso e perigoso. E aí entramos naquela loucura de “bebê preguiçoso”, que “passou da hora”, como se eles viessem com o prazo de validade estampado na testa quando nascem.

Na sociedade tecnológica, não se fazem mais apalpações na barriga da mãe para sentir a posição do bebê e a quantidade de líquido, se fazem ultrassonografias, com aparelhos manuseados por humanos e, por isso mesmo, bastante sujeitos a erros. E aí se cria na cabeça das mulheres o pesadelo do bebê gigante, que não vai passar, como se a natureza fosse cruel o suficiente para nos fazer gerar uma vida que não seremos capazes de dar à luz.

E, quando finalmente esse bebê nasce, seu instinto de sobrevivência é voraz, e não doce e sorridente como querem nos fazer crer as imagens das propagandas de fraldas e de shampoo infantil... Esse ser, tão pequeno, com a boca totalmente aberta, mãos cerradas, emitindo grunhidos que poderiam ser os de um filhote de hipopótamo, indo em busca do seio, de uma parte do nosso corpo tão cara e tão sensível, pode se tornar algo assustador se não estivermos preparadas para encarar o processo tal como ele é: fisiológico, natural, humano e animal ao mesmo tempo. Porque, afinal, como dizia a propaganda, ‘nós somos mamíferos’.

E a dor, que julgávamos ter desaparecido com o fim das contrações recomeça, e se nós travamos ao dar o peito, o leite some, empedra. E sempre tem alguém para apontar que nosso corpo é, mais uma vez, defeituoso, e o bebê não está ganhando peso. Ah, quanta ironia da natureza... nos faz gerar uma vida e não nos dá capacidade para mantê-la.

E assim, nós, que passamos tanto tempo exigindo ser tratadas em pé de igualdade com os homens e falando de gênero como algo socialmente construído, acabamos iguais num aspecto: incapazes de parir e de amamentar. Mas basta lembrarmos que diferente do gênero, o sexo, masculino ou feminino, é fisiologicamente constituído. Sim, temos diferenças centrais em relação aos homens. Do corpo deles não verte leite, do corpo deles não é possível sair um bebê. E não, não é possível que a natureza tenha mudado a ordem das coisas e entrado o século 21 nos pregando tantas peças...

Fico pensando em como é difícil processar tantas idéias num momento tão delicado quanto a gravidez e o puerpério e no quanto seria ingênuo acreditar que, sendo humana, vivendo na sociedade em que vivemos, seja possível seguir apenas os instintos para viver esse momento. Muito antes pelo contrário, o bom seria que soubéssemos todas usar uma espécie de “razão instintiva”, que nos permita aproveitar o máximo de conhecimentos da sociedade da informação para fazer nossas escolhas, respeitando, porém, a nossa fisiologia, e exigindo o controle absoluto sobre os processos que ocorrem em nosso próprio corpo, e o respeito ao tempo da gestação e do nascimento de cada um.

Bem, com certeza, esse tempo não coincide com feriados, festas e finais de semana dos médicos. Nem com o faturamento projetado para o próximo período dos hospitais mundo afora. Mas é preciso fazer uma escolha. E, com certeza, homens e mulheres das próximas gerações agradeceriam tamanha deferência com o tempo deles e delas... pois a vida, sim, começa no nascimento.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Uma rave sem aviso prévio


Se tem uma coisa que eu sempre gostei de fazer foi dormir bem. E bastante. Desde pequena, nunca fui de dormir tarde, e também nunca curti acordar cedo. Minha mãe, muito sábia, nunca me colocou pra acordar cedo pra ir pra escola, e eu só fui saber o que era isso quando cheguei no ensino médio. Depois, já mais velha, é claro que perdia noites de sono por uma boa balada, trocava o dia pela noite e, claro, pagava o preço disso. Até que fui percebendo que a qualidade do sono também estava diretamente ligada ao meu humor e à minha saúde... e passei a valorizar ainda mais as horas de sono bem dormidas. Tanto que, no mestrado, quando a maioria das pessoas varava noites para escrever suas dissertações, eu fiz questão de garantir os dias bem produtivos – para me encontrar com Morfeu todas as noites com a sensação de dever cumprido. E funcionou.

Como toda grávida que se preze, senti bastante sono no começo, que se estabilizou no meio do caminho, pra me fazer chegar no final aproveitando para descansar bastante, pois sabia que quando Luca nascesse, toda a rotina de sono conquistada ao longo de muitos anos estaria em xeque. E, claro, foi o que aconteceu. O sono dos bebês é imprevisível, e um dia ele pode dormir super bem, mas no outro pode resolver organizar uma rave na sua casa sem nenhum aviso prévio.

Bom, mas a verdade é que eu não tenho muito do que me queixar em relação ao sono de Luca. Desque ele nasceu, tem dormido super bem, especialmente à noite, quando embala de 6 a 8 horas seguidas, acordando uma vez pra mamar – duas, no máximo – e curtindo uma sonequinha durante o dia. O recorde dele dormindo foram 12 horas seguidas – e nesse dia, pasmem, eu acabei nem descansando direito, achando que ele podia acordar a qualquer momento...

Mas de vez em quando ele me prega umas peças e me quebra inteira. Porque eu to lá, seguindo o ritmo do sono dele durante o dia e à noite, procurando aproveitar o máximo desse tempo pra descansar, mas também pra deixar algumas outras coisas da vida minimamente organizadas. Não que eu seja muito exigente com a organização da casa – e nesse quesito Edu tem sido exemplar, ajudando na arrumação, na cozinha e nas compras – e nem que esteja escrevendo loucamente sobre a experiencia de ser mãe, mas eu preciso tomar banho, comer, e me conectar um pouco com o mundo também...

Eis que chega um belo dia, e ele resolve fazer a balada da madrugada e deixar todo mundo de plantão. O esforço pra conseguir interagir com ele quando isso acontece é sobrehumano, e nessas horas eu fico me perguntando se nasci mesmo pra isso... Ele tá lá, todo risonho, mamando, arrotando e descobrindo o mundo e eu to quase cochilando, tendo que tomar cuidado pra não derrubar ele do colo, de tão chapada... Mas ainda assim, é bacana ver que a falta de sono dele é porque são muitas informações pra processar, e às vezes não rola de dormir mesmo. Fico feliz porque percebo que é um sinal que ele está se desenvolvendo.

Essa semana, porém, eu me deparei com esse situação numa noite e, na noite seguinte, com uma outra não tão legal. Na primeira noite, pus ele pra dormir na hora normal, e ele me acorda depois de umas 3 horas dormindo... ligadaço. Não tinha incomodo, não tinha nem tanta fome assim. Ele queria brincar, olhar os pés que acabou de descobrir, o trenzinho na parede, queria ficar rindo de nada e de tudo ao mesmo tempo... vai saber o que se passa na cabeça de um bebê de dois meses. Resultado: eu e Edu tivemos que nos solidarizar a ele, e nos revezamos na hora de levantar pra (tentar) fazê-lo dormir.

No  dia seguinte, era dia de dar vacina. Eu até pensei em adiar, afinal ele não tinha descansado, nem eu, mas não dava, já estava passando do tempo e lá fomos nós... Eu não tenho essa de chorar junto com o bebê, sabe... eu até fico penalizada de vê-lo sofrer com a picadinha, mas meu senso prático fala muito alto nessa hora e eu sei que é para o bem dele. Sim, sou adepta convicta das vacinas, e confesso que até hoje não entendo direito os argumentos de quem não vacina seus pimpolhos...

Ele teve que tomar duas vacinas de gotinha e uma injeção. Foi choro atrás de choro e quando acabou, vesti a roupa dele, pus no sling e ele adormeceu... fomos pra casa torcendo para as reações serem as mínimas possíveis. Mas não aconteceu. Nas primeiras horas, a perna inchou, deu febre, e provalvemente dor no corpo todo, porque ele não conseguia dormir e chorava por nada e por tudo. Pra um bebê como Luca, que só chora de fome e reclama quando quer colo, isso já era totalmente fora do normal... O dia foi passando e tudo o que eu ouvia era um choro de dor, de lamento, pedindo colo, pedindo pra aquilo tudo passar logo... mas não passava. E era martirizante não poder fazer nada pra passar... e ainda por cima, querendo – muito – dormir...

Quando o dia caiu, ele estava no auge das reclamações. Nenhuma posição servia, ficar sem colo nem pensar, sugar o peito era uma dificuldade. Papai chegou, mais choro. Demos tilenol pra febre baixar, na esperança de agir também na dor. A temperatura normalizou ainda de noite, mas a dor... E tome leitinho e peitinho pra sugar e passar a dor, mas nada. Meus peitos estavam vazios, já que não tinha dormido e ele passou praticamente o dia pendurado.

Já era tarde quando finalmente parecia que ele ia dormir pra valer. Pus no berço e não se passaram 15 minutos pra ele acordar, com o berço provavelmente infestado de formigas que não o deixavam descansar... Edu se propôs a dormir com ele no colo no sofá da sala, pra que eu pudesse descansar e não prejudicar a produção de leite. Afinal, seria a segunda noite mal dormida, e o leite é produzido principalmente quando estamos relaxadas, de preferência dormindo...

Funcionou um pouco, mas ele logo acordou pedindo o peito. E dormiu rápido. Quando foi pro colo do pai de novo, já não era mais a mesma coisa... eu fui pra cama e Edu tentou nina-lo por um tempão, até que ele vomitou – provavelmente outra reação da vacina deve ter sido no estômago – e eu resolvi dar de mamar na cama, deitada, porque aí ele adormeceria no peito, mas já deitado... Edu se juntou a nós e assim amanhecemos o dia... Não preciso nem dizer o estado dos 3, né... sim, porque Luca também estava esgotado.

Minha vontade era ficar prostrada em casa, mas com um bebê no colo isso simplesmente não existe, então segui com a rotina. Foi a melhor coisa que fiz, porque isso o fez se sentir melhor e mais relaxado, conseguindo dormir. Ginástica logo cedo (não me perguntem como consegui energia pra fazer os exercícios... deve ser coisa que só quando a gente se torna mãe acontece mesmo...), muito colo, muito peito, muita brincadeira, mais algum incômodo na barriguinha no fim do dia, um cocozão pra terminar e... o monstro da vacina foi embora. Luca deixou Morfeu voltar pra casa, mandou as formigas para a toca delas... e papai e mamãe pra cama deles, que ninguém é de ferro. E a paz voltou a reinar no segundo andar. Até a próxima festa começar...