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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Um amor além do peito


(Esse post começou a ser escrito em abril, quando eu me dei conta que minha produção de leite já não era mais a mesma... não tinha ainda traçado a estratégia de desmame do Luca e acabei não seguindo adiante na escrita. Eis que a vida me surpreendeu e agiu por si própria, e o desmame aconteceu antes que eu pusesse a tal estratégia em prática...)

Um belo dia a gente acorda e percebe que o peito já não fica cheio como antes. Não enrijece a pele, não saltam os vasos, não dói. Dooooor mesmo a gente sente só no começo, e quando, depois que os dentes aparecem, seu filho, seja porque ele está distraído, seja porque VOCÊ está distraída, resolve tascar uma mordidinha pra te por de volta no modo mamífera.

Bem, mas eis que ele chega perto dos 6 meses, muito bem mamados, já dando sinais de que tava afim de experimentar coisas iguais às que ele vê você pondo na boca. Ele tenta tomar da sua mão, vira o prato do jeito que pode, fica salivando na sua frente. E, por mais que seja sedutora a ideia de ser a responsável exclusiva pela nutrição daquele pequeno e roliço ser, você se rende, porque sabe que isso faz parte do desenvolvimento dele, e do amadurecimento da relação de vocês.

Tá, não é fácil admitir que pelos últimos 15 meses (sim, os 9 meses de gravidez também contam, tá??) você deu conta com exclusividade de alimentar e prover ao seu filhote um mínimo de defesas para ele enfrentar o mundo aí fora. Não é fácil admitir que, a partir de agora, e cada vez mais, outras pessoas poderão ficar responsáveis pela nutrição do seu filho. Não é fácil admitir ainda que aquele aconchego que hoje ele – e você também – tem com o peito será, paulatinamente, substituído por outras formas de relação, igualmente afetuosas e representativas do amor que vocês nutrem um pelo outro – mas, fundamentalmente, diferentes.

E aí você se lança na jornada de “complementar” a amamentação com algumas comidinhas sólidas, preparadas exclusivamente por você, com toda a orientação possível. Cada pediatra tem uma orientação diferente para essa introdução alimentar, liberando aos poucos os grupos de alimentos, ou todos de uma vez. Sugerindo que comece pelo suquinho e pelas frutas, e depois as papas salgadas. Ou então o contrário, e indicando que se evite os sucos aos quais é preciso adicionar água. Mas água pura todos indicam. Chá, nem todos, por uma boa razão, interfere na absorção do ferro. Ah, sim, ferro alguns indicam a versão sintética como “profilaxia”, acreditando que seu filho será sempre um dos 50% que chegará aos 2 anos com anemia fisiológica. Outros já partem pro ataque mesmo e vão logo indicando suplementos vitamínicos.

Bem, por aqui superamos bem esses desafios, nada de industrializados, nada de suplementos de laboratórios, só a boa e velha comida caseira, assim como foi com o bom e velho peito caseiro, que fez mininu ficar quadrado de tão redondo. O primeiro mês de introdução de comidinhas foi um verdadeiro fracasso, apesar dele não rejeitar totalmente a comida, as mamadas não diminuíram nada de nada, e eu achei que ele fosse mamar até ficar bem velhinho... Mas não alimentei a paranoia, porque o período de introdução alimentar coincidiu com o fim da minha licença e a posterior entrada na creche.  Então eu tratei de aproveitar os instantes finais de livre demanda genuína, porque o desconhecido estava por vir. E porque algo me dizia que com a entrada na creche, ele ia pegar o ritmo da alimentação sólida, pois pra greve de fome, definitivamente, ele não tem vocação. Igual à mãe nesse aspecto.

Esse período foi relativamente longo, durou dos 6 aos 8 meses. Eu voltei a trabalhar quando ele completou 7 meses, foi o que me coube de licença maternidade remunerada, e a opção não remunerada não foi planejada, porque não existia como opção, por n motivos que eu já falei por aqui. A creche só começava um mês depois, e ao longo desse tempo, tratei de ir almoçar em casa todos os dias, pra ficar com ele e pra dar de mamar. E ele só queria mamar. Comer, só quando tinha vontade. E nunca pirei com isso também. Como já disse, reserva calórica ele tinha de sobra.

E eis que começou a creche. Uma semana de adaptação, alguns dias indo na hora do almoço e logo ele se habituou ao novo cotidiano, e surpreendeu – às educadoras, não à mãe – com o apetite. Comia de tudo, e tudo que tinha no prato. Mas seguia mamando, loucamente, diga-se, quando estávamos juntos. Como disse uma pediatra, era fome de mãe. E a mãe também tinha fome de filho.

Nesse processo, o peito não chegou a vazar. Chegou a encher e a endurecer como nos primeiros dias de vida de Luca, mas não esguichava. Até porque isso nunca aconteceu, nem no alto da apojadura... Aos poucos, o corpo foi entendendo o que estava acontecendo e ia suprindo os seios com leite para chegar no fim do dia bem recheado, porque a mamada do reencontro, ainda na creche, se tornou sagrada pra nós dois... Luca ficava um tempão, às vezes em um peito só, às vezes nos dois. Às vezes dormia. Um momento de extremo afeto, do qual até hoje eu tenho saudade. Talvez o que mais me dê saudade. Porque significava dizer, pra mim e para ele, que a separação diária era dura, mas era finita. Aquela mamada simbolizava isso. E por isso foi a mais difícil de ser deixada. A que ele mais sentiu. E eu também.

No fim de semana, que a demanda era mais densa, o peito não acompanhava. E de madrugada também não. Resultado: Luca passou uns 2 ou 3 meses acordando praticamente de hora em hora solicitando as gotas que eu conseguia produzir. Eu? Ficava devastada, física e emocionalmente. Sabia que mais uma separação estava por vir, e me angustiei em vários momentos por ser tão cedo. Mas segui firme e forte, sem recuar uma mamada enquanto ficávamos juntos. Luca passou uma semana afastado da creche por conta de uma gripe forte, e a cada dia que passava, era uma refeição a menos e 3 mamadas a mais. Vitória do peito. E do vínculo mãebebê.

Até que a poucos dias dele completar um ano, eu tive que viajar a trabalho. Três dias fora. Aceitei viajar sem nem pestanejar, estava empolgada com o retorno ao trabalho, apesar do cansaço e da falta do convívio com Luca. Mas sem pestanejar e sem me dar conta dos peitos que iam encher e dessa primeira separação física. Duas noites sem meu pequeno. Só percebi isso na véspera. Quase desisto. Não podia, com dinheiro público não se brinca. Lá fui eu, mas meu coração ficou aqui.

Os dias passaram rápido, como sempre são esses compromissos pra mim, as noites nem tanto. Chegava no hotel precisando esvaziar os peitos doloridos, e junto com o leite, vertiam as lágrimas, por deixar ir embora líquido tão precioso. De longe, foi a parte mais difícil e mais triste... quando finalmente cheguei em casa, o pai tinha ido buscar mininu na creche e ele chegou dormindo... acordou poucas horas depois e mamou tudo o que tinha lá, e não era pouco. Depois disso, nossas vidas não foram as mesmas...

O peito passou a encher menos ainda, parecia que meu corpo queria se vingar de mim por eu ter saído de perto da minha cria. Luca não rejeitou o peito, pelo contrário, seguiu solicitando como sempre. Parecia que eu nem tinha ido viajar. Inclusive o pai não notou mudança no comportamento dele. Ele não topou mamadeira de noite, porque tinha brigado com a dita cuja meses antes, mas topou uma frutinha amassada. No retorno, fez a pazes com o artefato, com uma daquelas de recém nascido, antes de dormir, depois da mamada oficial. Com leite de aveia, porque não sabíamos qual seria a reação dele ao leite de vaca e queríamos prevenir qualquer efeito desagradável, como de fato aconteceu meses depois.

O que era uma mamadeira de recém nascido, foi crescendo até virar a maior mamadeira do mercado. O peito? Ah, esse continuou sendo solicitado, pras sonecas do fim de semana, pras – agora raras – acordadas da madrugada. Pro choro, pro dengo, pro amor, pro vínculo... no reencontro da creche, que passou a acontecer em casa, com nós dois deitados na minha cama. Sempre que ele pedia, rolava.

Vale dizer que isso foi acontecendo à revelia da estratégia que eu tinha montado, de ir reduzindo determinadas mamadas paulatinamente. A vida – e algumas das minhas opções, claro – me empurrou a isso, e eu aceitei. Mas Luca foi ditando o ritmo, e na medida em que ele NÃO chorava, eu ia diminuindo. Sem stress. Até que um dia eu saquei o peito pra fora porque achei que ele estava com sono, e ele me mordeu. Guardei e pus ele no chão. Uma semana depois, ofereci. Ele ficou com o peito na boca, meio sem saber o que fazer, deu uma sugada e tirou a boca. Entendi. O lance agora é a mamadeira. Só ela. Isso deve ter um mês, um pouco mais.

Uma das coisas mais curiosas desse processo é que ele foi ocorrendo também à medida que Luca foi parando de colocar tudo o que via pela frente na boca. Sim, sei que a fase oral se estende até os 2 anos ou mais, mas sei também o que vejo no meu filho, que hoje não descobre mais o mundo pela boca. Ele mama menos na mamadeira do que mamava no peito. Ele hoje dorme a noite toda, e da chupeta sempre passou longe. Tendo a pensar que o peito saiu de cena no tempo certo. Hoje ele se relaciona com as coisas por meio das suas mãos, apontando para o mundo que está descobrindo, e que logo irá nomear.

O que  teria acontecido se eu não tivesse viajado? Não há como saber, pode ser que o peito continuasse na área. Pode ser que não. Também me pergunto o que teria acontecido se eu não tivesse engravidado por um descuido. Provavelmente estaria dormindo mais e melhor. Mas não há como saber. Ambas as perguntas são inúteis, porque aconteceu o que tinha que acontecer, na hora que tinha que acontecer. E que bom que foi assim, porque a chegada dessa pessoinha alegrou muito a minha existência.

Se eu sinto saudade de amamenta-lo? Muuuuita, mas muita mesmo. Tem horas que fico com vontade de oferecer de novo o peito pra ele, de tirar a mamadeira, mas há coisas na vida que simplesmente não há como retroceder. Eu me emociono cada vez que ele aponta pro meu peito sinalizando que quer mamar. Tem horas que enfia a boca no meu colo, abaixa minha blusa, até mesmo na rua. Mas é a mamadeira que ele quer. Porque a mamadeira tem a quantidade de líquido que ele precisa. E ele sabe que tem a mamãe pra dar o colinho que ele deseja. O pai me pergunta porque eu não dou de mamar com ele no berço, como ele próprio faz. E eu respondo que é porque eu  também me alimento dele nessa hora. E é engraçado às vezes sentir a ocitocina pulsando nas minhas veias, mesmo com esse instrumental entre nós. É muito amor. Muito amor.

O desmamadeirame? Bem, esse ainda não foi planejado, tudo a seu tempo, então fica pra um outro post, junto com um terceiro, no qual eu conto a saga da escolha do leite...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Blogagem coletiva: criação com apego


No universo da blogosfera materna, hoje foi proposta uma blogagem coletiva sobre o tema da “criação com apego”. Já tinha visto outras propostas de escrita coletiva sobre temas afetos a mulheres com filhos ou em via de tê-los, mas nenhum tinha me empolgado a ponto de rascunhar algumas linhas... e olha que mesmo depois de praticamente um ano do meu parto, estou sempre lendo relatos e histórias afins, porque essa foi uma experiência tão marcante, que até  hoje não consegui me dar conta da totalidade do seu significado para mim. Então vou me nutrindo de outras histórias para compreender melhor a minha própria. Porque é assim que a vida em sociedade acontece, não é?

Mas o lance da forma de criação dos filhos me mobilizou, porque se trata de um assunto que passou a me revirar as entranhas cada vez que tomo conhecimento de exemplos de abuso e descaso com esses seres ainda iniciantes nesse mundão afora, em mostras patentes da ignorância alheia em respeitar um bebê como ser humano que ele é, que acaba subjugado pela força e pelo autoritarismo arrogante. E não precisa nem chegar ao extremo dos casos de abuso e outras formas de violência sexual, ou do espancamento e outras formas de violência física e moral. Às vezes percebo uma ansiedade que eu considero desnecessária, em fazer com que os filhos sejam independentes quando ainda são bebês, custe o que custar em termos emocionais, para ambas as partes.

Considero isso desnecessário e contraproducente, porque entendo que a primeira coisa que deve ser ensinada aos filhos não é que eles precisam aprender a se virar sozinhos, mas sim que eles sempre poderão contar com aqueles que lhe deram a vida. Além disso, quando eles são bebês, nos pedem muito pouco. Alguém que pegue no colo, dê carinho, mantenha limpo e alimentado e faça dormir. Se nem isso temos disposição pra dar, porque escolher ter filhos? Sim, porque minha geração já sabe que não precisa viver a maternidade como a realização máxima de uma mulher. Existem outras coisas que podem se prestar a isso. Realização máxima com outro ser humano é algo altamente temerário, a meu ver, porque não podemos brincar com a vida e os sentimentos das pessoas. Um bebê não é um tamagotchi nem um jogo de videogame cujo objetivo é passar de fase. É um ser humano, no minuto em que nasce, ainda que sua desenvoltura física e tamanho sejam tão diferentes das nossas.

Então, na minha caminhada como grávida e depois como mãe, algumas questões simplesmente tinham que ser de determinada forma se eu tinha escolhido ter um filho. Sim, escolhido, porque apesar de Luca ter sido concebido antes do que eu e o pai dele planejávamos, e o aborto não ser permitido no Brasil, eu jamais traria ao mundo uma vida que não me sentisse apta a cuidar...

Bom, dito isso, nunca me passou pela cabeça, por exemplo, ter uma babá. Eu tirei minha licença maternidade com todos os dias a que tinha direito, emendei com férias e quando retornei ao trabalho, ele foi para uma creche, apenas durante a minha jornada laboral. Noites e finais de semana fica sob minha responsabilidade e do pai dele. Andamos muito de sling, de carrinho, de carro, fazemos várias coisas juntos, de compras no mercado a passeios no parque, curtindo intensamente cada dia e cada segundo desse tempo juntos, sem pressa, sem angústia com a volta ao trabalho, encarando tudo como um processo, uma vida em comum que só está começando.

E uma coisa que aprendi, era que desde cedo devia respeitar o ritmo dele pra tudo. Ouvi algumas vezes que Luca tinha ciúme dos brinquedos e que não se socializava com outras pessoas – leia-se, não ia no colo de todo mundo. E sempre dito como um problema a ser solucionado por mim, a mãe dele. Como se o temperamento inato dele não tivesse nada a ver com isso e tivesse um jeito certo de educá-lo, para fazer o que outras pessoas esperam dele. Bem, não levei nada disso a sério e hoje em dia ele vai muito bem, obrigado, com as pessoas com quem convive na creche. Se ele vai no colo de qualquer um? Não, não vai. E quem disse que eu espero isso dele? Pelo contrário, acho que esse mecanismo de defesa é super importante pra quando ele estiver maior, de não dar confiança pra qualquer um que se aproximar – muitas vezes longe dos meus olhos – deixando meu coração tranqüilo de que saberá se cuidar.

E nessa coisa do ritmo dele, nunca me atraíram também as técnicas de treinamento do sono. Deixar chorar nunca foi uma opção, mas quando o cansaço bateu forte nas minhas costas, eu fui atrás de alguma literatura que se aproximasse daquilo que eu entendia como adequado na criação dele e encontrei. O livro não fugia ao padrão esquemático de rotinas rígidas e eu demorei muitos meses até resolver aplicar alguma coisa que estava escrito ali. Foi só quando realmente bateu o desespero – porque eu sabia que minhas decisões de estar bem perto, amamentando e respeitando exclusivamente o tempo dele tinham um preço, que era de tornar todos os processos muito mais lentos e graduais.

Mas quando eu voltei a trabalhar e passei a ter uma rotina mais fixa, o sono interrompido dele passou a me desorganizar mais do que eu podia suportar. Foi só aí que achei que era o momento de tomar alguma providência e o que fiz, de forma muito, mas muito lenta, foi começar a desvincular o peito do sono, e a estimular meu filho a adormecer de outras formas. Que formas? Aquelas que ele sinalizasse pra mim que lhe agradavam mais. A hora de dormir passou a ser mais demorada, mas os efeitos começaram a se fazer sentir: mais horas seguidas de sono, aceitação em ir pro berço acordado, menos choro na hora de dormir e capacidade de adormecer sozinho quando acorda no meio da madrugada. E esse é um processo que ainda não se completou, e que eu acredito que ainda vai demorar mais um pouco até ser finalizado.

A amamentação, na minha cabeça, sempre me pareceu uma questão pura e simples de preparar o seio para receber aquela boquinha e dar o peito sempre que o bebê solicitasse. Eu nunca imaginei, porém, que a força daquela boquinha pudesse ser tanta e que ele pudesse solicitar mais ainda... Não foram poucas as vezes que me questionei se era capaz de levar isso adiante por 6 meses com exclusividade. Mas claro estava para mim que eu não embarcaria na primeira conversa de pediatra que me dissesse que o ganho de peso não estava satisfatório e que seria necessário entrar com fórmula. Dentro de mim gritava uma voz que me dizia que, tal como fui capaz de parir, seria capaz de alimentar meu filho pelo tempo que fosse necessário. E, passado o primeiro mês, quando contei com muito apoio por parte do meu companheiro, marido e pai de Luca, tudo se tornou muito mais natural e fácil de levar. Foi quase como aprender a dirigir: no começo você tem que pensar em cada movimento e tudo que acontece à sua volta te deixa meio alarmada, depois você condiciona aquilo ao seu cotidiano e a coisa flui de um jeito que é como se você fizesse aquilo... desde que nasceu.

E nunca percebi esse momento como uma prisão, um impedimento para fazer outras coisas. Não pode fumar? Não. Não pode beber? Não muito. Não pode sair à noite? Não, não rola. Mas ele não vai mamar até os 18 anos, então não tem porque ficar ansiosa. Além disso, eu aproveitei muito minha juventude e minha solteirice, por isso não vejo esses impedimentos como um tempo perdido. Vejo como um momento radicalmente diferente na minha vida, com outras escolhas se impondo no cotidiano, que logo vão mudar, porque Luca vai crescer e vai passar a afirmar outras necessidades – e outras preferências. Por isso nunca tive pressa em diminuir mamadas, pensar em desmame, introduzir alimentação... Tinha certeza que ele sinalizaria para mim o momento em que estivesse pronto para isso. Como sinalizou e continua sinalizando.

E aí, nas portas dele completar um ano de vida e eu um ano de mãe, vem à tona essa história da criação com apego, que eu achei que poderia compartilhar com quem me lê como eu pratico no dia a dia, e aí está. Pra mim, é algo que não trata de um método ou técnica, mas sim de uma filosofia de cuidado, na qual não existem esquemas rígidos, porque o ser humano não se constitui só com rotinas. Trata-se de um conjunto de entendimentos sobre como criar seres humanos saudáveis emocionalmente e aptos para uma vida em sociedade humanizada e respeitosa. E, para isso, basta praticar esses valores, com disponibilidade emocional para estar próximo dos filhos, sem intermediários, o maior tempo possível, dando a eles todo o carinho e atenção que eles precisam e merecem, sem medir a quantidade e a qualidade, sem se preocupar se vai mimar ou não. Ensinar a eles valores como confiança e amor ao próximo, essencial para uma vida em sociedade mais humanizada. Respeitando sua condição humana, presente desde o primeiro minuto de nascimento.


domingo, 3 de julho de 2011

Quem não chora não mama?

Até que Luca viesse ao mundo, eu nunca entendi essa história dos tipos de choro do bebê. Confesso que tinha dificuldade em concordar que, sendo essa a única forma de comunicação deles, desenvolviam uma entonação para cada queixa ou demanda que apresentassem... Mas sempre pensei também, por outro lado, que minha ignorância se devia ao fato de ainda não ter vivido essa experiência concreta. Que quando chegasse a minha hora, eu saberia.

Bem, minha hora chegou e eu continuei sem entender direito essa história dos tipos de choro. Li algumas coisas a respeito, que inclusive detalhavam algumas diferenças e fiquei observando Luca para ver se identificava alguma delas... não, nada. Talvez porque ele seja um neném muito tranquilo e chore muito pouco eu tenha tido – e ainda tenho – dificuldade de diferenciar as coisas.

Assim, vira e mexe eu levanto no meio da noite, achando que ele está acordado, querendo mamar, quando ele só está gemendo, provavelmente tendo algum sonho que nunca se lembrará... Mesmo se me guio pelo relógio, pois já dá pra saber mais ou menos os intervalos de sono e fome dele, ainda ficamos, eu e Edu, sujeitos a erros...

Bem, isso acontece também porque eu adotei como princípio não esperar meu filho se esvair em lágrimas para ir atendê-lo. Se tem uma coisa que nunca fez sentido pra mim é deixar um bebê chorando para não ‘mimá-lo’, não deixá-lo ‘manhoso’.

Depois que engravidei, e que passei a pesquisar diversas coisas relativas ao choro e à famosa manha, é que me convenci que deixar um bebê chorar loucamente só faz com que ele... chore ainda mais. Sim, pois, em primeiro lugar, nascemos com um sistema nervoso muito imaturo e, até os 3 meses, somos incapazes de manipular quem quer que seja. Não há consciencia desenvolvida o suficiente para tal. Depois disso, logo ele perceberá que quanto mais alto chorar, mais cedo ganha o que quer. E aí vira um cavalo de batalha entre pais e filhos que, sinceramente, não vejo quem possa sair beneficiado...

Assim, tenho me dedicado a perceber seus sinais antes que o choro venha. E vamos combinar que um bebê não tem desejos muito elaborados ou extravagantes: ele gosta de mamar, ficar sequinho e dormir. E não é dificil identificar nenhuma dessas coisas quando elas chegam. Por isso que quem já conheceu Luca, o acha um bebê mais que tranquilo.

É claro que tem dias que a gente acaba chegando meio tarde e aí o berreiro se forma... Mas dura pouco, felizmente. Agora, já passei alguns sufocos com ele nesse comecinho da nossa relação, em que não conseguia entender os seus desejos. E isso se refletiu na dificuldade de dormir, choro fácil e constante, necessidade de sucção incontrolável... Nada que se assemelhasse aos relatos que ouço das famosas cólicas (embora eu tenha lido coisas muito diferentes entre si a respeito delas, desde culturas que não conhecem o significado dessa palavra, até a medicina ocidental, que diverge nas causas e sintomas desse choro prolongado e inconsolável...), mas que foram suficientes para, junto com a avalanche de hormônios do puerpério, me deixar bem desestabilizada.

E aí, quando o instinto me deixou na mão, recorri ao intelecto e fui pesquisar. Uma das descobertas, ainda nos primeiros dias após o parto, foi a tal teoria da ‘exterogestação’, segundo a qual o bebê, depois que nasce, não assimila imediatamente que está fora da barriga da mãe. Então, além de achar que ele e ela ainda são uma coisa só, o bebê busca também as mesmas condições que tinha dentro do útero: um lugar quentinho, apertado e escurinho.

Laura Gutman, terapeuta argentina especializada em tratar mães de recem nascidos, afirma que um bebê precisa de apenas 3 coisas. Alimento é a primeira delas. A segunda, comunicação; sim, é preciso conversar com seu filho, explicar a ele o que está  fazendo com ele, o que acontece no entorno, quem são as visitas que chegam, onde vão passear... ele não processa nada disso em forma de linguagem, mas das sensações passadas pela mãe e pelo pai, e isso o tranquiliza, pois ele já ouvia essas vozes quando estava no útero. E, a última, contato físico... o famoso colo, que tem caído tanto em desuso ultimamente, diante das sentenças dos ‘especialistas’ e a ânsia dos pais para que os bebês não se tornem crianças manhosas... o que às vezes me cheira puro comodismo, para que possam liberar as mãos para fazer outras coisas.

E aí, o que eu acho é o seguinte: se fosse o colo o problema, seria fácil de resolver. Como diz um amigo, a coisa complica quando eles aprendem os verbos comprar e querer, e os pais não sabem dar medida disso. Aí sim, veremos o que é manha... Mas isso fica pra outro capítulo, afinal, eu ainda sou mãe de um bebezinho de um mês e não me deparei com essas questões...

Outro achado foi um pediatra inglês, salvo engano, chamado Harvey Karp, que desenvolveu algumas técnicas para criar condições semelhantes à vida no útero e acalmar bebês desconsolados. Ele publicou inclusive um livro, com DVD, chamado “The Happiest Baby on the Block”. O livro eu recebi um trecho de uma amiga mamãe e o DVD recentemente eu consegui uma cópia, que ainda não assisti.

Entre outras coisas, ele recomenda enrolar o bebê apertadinho num cueiro e fazer um som parecido com ‘shhh, shhhh’, que também pode ser substituído por uma torneira aberta, que relembra os ruídos de dentro da barriga da mãe. Essas duas dicas, somadas a um estratégico banho bem quentinho no fim da tarde, foram essenciais quando Luca passou uns dias muito agitadinho, e fez com que ele voltasse a dormir melhor – e me deixasse dormir também. Sim, porque pior que ver seu filho incomodado, é ter que lidar com isso num estado lamentável de cansaço... haja paciência e perseverança para não jogar a tolha...

(...)

Claro, como se isso fosse possível...

(...)

Não é, nem eu quero. Quero mais é aprender o que meu filho precisa e fazer o possível para atendê-lo. Hoje, ele é totalmente indefeso e precisa do mínimo. Sei que em breve  as necessidades mudarão, e as exigencias também, vindo junto um temperamento que ainda irá se formar. Tenho crença absoluta de  que tudo o que estou fazendo com ele hoje, irá se refletir nele e em nossa relação daqui a alguns anos, quiçá meses. Não quero que ele pense que precisa  se defender de mim, chorando. Quero que ele aprenda que não é preciso chorar para conseguir o que ele quer, que é possível estabelecermos uma relação em que ele utilize, hoje, suas lindas caras e bocas e, mais adiante, seus argumentos. E, se ele puxar à mãe, não faltarão argumentos para  conseguir o que deseja... 

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Uma feliz parceria

Quem imagina que, na maternidade, a dor termina com o parto, engana-se redondamente. Sim, a amamentação é um exercício de perserverança, determinação e paciência. E, sobretudo, de resistência à dor. Logo após o nascimento, tudo o que eu mais queria era alimentar meu filho, tê-lo em meus braços e permitir, com o alimento produzido dentro do meu próprio corpo, que ele possa crescer e se desenvolver. Mas, na primeira pegada, senti que as coisas não seriam tão fáceis assim. Dizem que meninos sugam com mais força que as meninas, mas acho que num primeiro momento não há mulher que não sinta o choque do ‘apertão’ numa área tão sensível do corpo. Ali, começamos a ser testadas nesses quesitos que citei no começo do parágrafo.

No meu caso, eu tinha 50%  das coisas resolvidas: um dos meus peitos tinha o bico totalmente formado, enquanto o outro teria que ser formado por ele, ao longo das primeiras mamadas. Esse processo foi bem difícil: nos primeiros dias houve um certo sangramento, e o processo de cicatrização demorou pelo menos uma semana. A dor é inimaginável. É totalmente diferente do parto, e incomparável, pois no caso da amamentação, você sabe que ficará nessa por pelo menos seis meses... e eu só ficava imaginando em que momento a dor iria passar...

Confesso que, diante desse cenário, meu instinto materno não veio junto com Luca; ele foi se constituindo aos poucos, pois, no começo, cada vez que ele ele pedia o peito, eu ficava bem angustiada com a idéia de sentir dor mais uma vez. Desejava que ele se saciasse logo e dormisse – sim, o peito é um poderoso sonífero, e nesse primeiro mês, conto nos dedos as vezes que foi Edu quem conseguiu fazê-lo dormir...

Evidente que a questão do instinto materno não tinha a ver apenas com a amamentação; o turbilhão de emoções pelo qual passamos após dar à luz, juntamente com as demandas contínuas de nosso bebê, nos põe à prova a todo instante. Não é simples se deparar com uma vida totalmente dependente da sua, que sente o que você sente, que capta suas emoções e sua energia, agindo de acordo com elas. E não é simples perceber que fazemos a mesma coisa. A ligação é, de fato, muito intensa, e a amamentação, além de servir à nutrição e ao desenvolvimento dessa nova vida, é um símbolo da força dessa conexão.

Nos dias em que ele tomou as primeiras vacinas e fez o teste do pezinho, ainda na primeira semana, minha perseverança continuou sendo posta à prova: as reações causadas por essas intervenções fizeram com que Luca ficasse muito incomodado e, como reação, solicitasse muito mais o peito. Ainda com feridas nos mamilos, achei que não fosse aguentar o tranco muito mais tempo. Além disso, não é muito animador ter que encarar outras restrições, como evitar alimentos com cafeína e bebidas alcóolicas e caprichar nos nutrientes, retardando a volta ao peso original; as roupas que fatalmente se sujam de leite gorfado assim que v. sai do banho e a necessidade de ter peças adequadas para amamentar, me impedindo de ter logo meu guarda roupa pré-gravidez de volta...

Mas tudo isso acaba sendo um mero detalhe, pois os dias passam tão rápido, as feridas cicatrizam e o ato de amamentar meu filho, acalentá-lo e fazê-lo dormir tem se tornado mais e mais prazeiroso, a ponto de me pegar desejando que ele acorde logo para vir para os meus braços. Ainda sinto alguma dor, que estou investigando a causa, sendo uma das hipóteses a pega inadequada (ainda que eficaz) ou fungo (coisa muito comum no pós-parto)... Mas, ao ver que ele engordou mais de 1 kg em apenas um mês, só posso ficar feliz porque meu leite estar sendo tão bom pra ele. E não questiono, de forma alguma, a decisão de amamentá-lo exclusivamente nos próximos 5 meses e estender isso por, pelo menos, até ele completar 1 ano – se assim ele quiser.

Sim, é cansativo levantar de madrugada para alimentá-lo – rotina que inclui também uma troca de fraldas – e esperá-lo adormecer de novo. E, nesse começo, sequer faço esforço para criar uma rotina para ele. Ele é quem me diz a rotina que eu devo seguir. Resultado é um cansaço extremo, que nem sempre consigo amenizar dormindo nas horas que ele dorme. Seja porque tenho que resolver outras coisas, seja porque o sono não vem. Tenho me esforçado; permaneço na cama mesmo sem dormir, só relaxando o corpo, esticando as pernas, a coluna, para poder aguentar a madrugada que me espera.

Eu, que sempre gostei de um lugar confortável para dormir, hoje me pego cochilando na poltrona que fica no quarto dele durante essas mamadas. Porém sei que o meu relaxamento, a ponto de adormecer, passa para ele não  como indiferença, mas como entrega total a um processo que é conjunto. Uma parceria feliz que estou desenvolvendo com meu filho e que, espero, seja a primeira de muitas. E é muito gratificante olhar para ele e, a cada instante, descobrir que algo nele está mudando; seja porque está crescendo, porque está mais alerta, porque suas mãozinhas já fazem movimentos mais conscientes junto ao meu corpo. E, apesar de saber que ele ainda é muito pequeno para dar sorrisos conscientes, gosto de pensar que a risadinha que ele abre após largar o peito é um reflexo das sensações de satisfação dele, ao se sentir amado e bem nutrido...