(Esse
post começou a ser escrito em abril, quando eu me dei conta que minha produção
de leite já não era mais a mesma... não tinha ainda traçado a estratégia de
desmame do Luca e acabei não seguindo adiante na escrita. Eis que a vida me
surpreendeu e agiu por si própria, e o desmame aconteceu antes que eu pusesse a
tal estratégia em prática...)
Um belo dia a gente acorda e percebe que o
peito já não fica cheio como antes. Não enrijece a pele, não saltam os vasos,
não dói. Dooooor mesmo a gente sente só no começo, e quando, depois que os
dentes aparecem, seu filho, seja porque ele está distraído, seja porque VOCÊ
está distraída, resolve tascar uma mordidinha pra te por de volta no modo
mamífera.
Bem, mas eis que ele chega perto dos 6
meses, muito bem mamados, já dando sinais de que tava afim de experimentar
coisas iguais às que ele vê você pondo na boca. Ele tenta tomar da sua mão,
vira o prato do jeito que pode, fica salivando na sua frente. E, por mais que
seja sedutora a ideia de ser a responsável exclusiva pela nutrição daquele
pequeno e roliço ser, você se rende, porque sabe que isso faz parte do
desenvolvimento dele, e do amadurecimento da relação de vocês.
Tá, não é fácil admitir que pelos últimos
15 meses (sim, os 9 meses de gravidez também contam, tá??) você deu conta com
exclusividade de alimentar e prover ao seu filhote um mínimo de defesas para
ele enfrentar o mundo aí fora. Não é fácil admitir que, a partir de agora, e
cada vez mais, outras pessoas poderão ficar responsáveis pela nutrição do seu
filho. Não é fácil admitir ainda que aquele aconchego que hoje ele – e você
também – tem com o peito será, paulatinamente, substituído por outras formas de
relação, igualmente afetuosas e representativas do amor que vocês nutrem um
pelo outro – mas, fundamentalmente, diferentes.
E aí você se lança na jornada de
“complementar” a amamentação com algumas comidinhas sólidas, preparadas exclusivamente
por você, com toda a orientação possível. Cada pediatra tem uma orientação
diferente para essa introdução alimentar, liberando aos poucos os grupos de
alimentos, ou todos de uma vez. Sugerindo que comece pelo suquinho e pelas
frutas, e depois as papas salgadas. Ou então o contrário, e indicando que se
evite os sucos aos quais é preciso adicionar água. Mas água pura todos indicam.
Chá, nem todos, por uma boa razão, interfere na absorção do ferro. Ah, sim, ferro
alguns indicam a versão sintética como “profilaxia”, acreditando que seu filho
será sempre um dos 50% que chegará aos 2 anos com anemia fisiológica. Outros já
partem pro ataque mesmo e vão logo indicando suplementos vitamínicos.
Bem, por aqui superamos bem esses desafios,
nada de industrializados, nada de suplementos de laboratórios, só a boa e velha
comida caseira, assim como foi com o bom e velho peito caseiro, que fez mininu
ficar quadrado de tão redondo. O primeiro mês de introdução de comidinhas foi
um verdadeiro fracasso, apesar dele não rejeitar totalmente a comida, as
mamadas não diminuíram nada de nada, e eu achei que ele fosse mamar até ficar
bem velhinho... Mas não alimentei a paranoia, porque o período de introdução
alimentar coincidiu com o fim da minha licença e a posterior entrada na
creche. Então eu tratei de aproveitar os
instantes finais de livre demanda genuína, porque o desconhecido estava por
vir. E porque algo me dizia que com a entrada na creche, ele ia pegar o ritmo
da alimentação sólida, pois pra greve de fome, definitivamente, ele não tem
vocação. Igual à mãe nesse aspecto.
Esse período foi relativamente longo, durou
dos 6 aos 8 meses. Eu voltei a trabalhar quando ele completou 7 meses, foi o
que me coube de licença maternidade remunerada, e a opção não remunerada não
foi planejada, porque não existia como opção, por n motivos que eu já falei por
aqui. A creche só começava um mês depois, e ao longo desse tempo, tratei de ir
almoçar em casa todos os dias, pra ficar com ele e pra dar de mamar. E ele só
queria mamar. Comer, só quando tinha vontade. E nunca pirei com isso também.
Como já disse, reserva calórica ele tinha de sobra.
E eis que começou a creche. Uma semana de
adaptação, alguns dias indo na hora do almoço e logo ele se habituou ao novo
cotidiano, e surpreendeu – às educadoras, não à mãe – com o apetite. Comia de
tudo, e tudo que tinha no prato. Mas seguia mamando, loucamente, diga-se,
quando estávamos juntos. Como disse uma pediatra, era fome de mãe. E a mãe
também tinha fome de filho.
Nesse processo, o peito não chegou a vazar.
Chegou a encher e a endurecer como nos primeiros dias de vida de Luca, mas não
esguichava. Até porque isso nunca aconteceu, nem no alto da apojadura... Aos
poucos, o corpo foi entendendo o que estava acontecendo e ia suprindo os seios
com leite para chegar no fim do dia bem recheado, porque a mamada do
reencontro, ainda na creche, se tornou sagrada pra nós dois... Luca ficava um
tempão, às vezes em um peito só, às vezes nos dois. Às vezes dormia. Um momento
de extremo afeto, do qual até hoje eu tenho saudade. Talvez o que mais me dê
saudade. Porque significava dizer, pra mim e para ele, que a separação diária
era dura, mas era finita. Aquela mamada simbolizava isso. E por isso foi a mais
difícil de ser deixada. A que ele mais sentiu. E eu também.
No fim de semana, que a demanda era mais
densa, o peito não acompanhava. E de madrugada também não. Resultado: Luca
passou uns 2 ou 3 meses acordando praticamente de hora em hora solicitando as
gotas que eu conseguia produzir. Eu? Ficava devastada, física e emocionalmente.
Sabia que mais uma separação estava por vir, e me angustiei em vários momentos
por ser tão cedo. Mas segui firme e forte, sem recuar uma mamada enquanto
ficávamos juntos. Luca passou uma semana afastado da creche por conta de uma
gripe forte, e a cada dia que passava, era uma refeição a menos e 3 mamadas a
mais. Vitória do peito. E do vínculo mãebebê.
Até que a poucos dias dele completar um
ano, eu tive que viajar a trabalho. Três dias fora. Aceitei viajar sem nem
pestanejar, estava empolgada com o retorno ao trabalho, apesar do cansaço e da
falta do convívio com Luca. Mas sem pestanejar e sem me dar conta dos peitos
que iam encher e dessa primeira separação física. Duas noites sem meu pequeno.
Só percebi isso na véspera. Quase desisto. Não podia, com dinheiro público não
se brinca. Lá fui eu, mas meu coração ficou aqui.
Os dias passaram rápido, como sempre são
esses compromissos pra mim, as noites nem tanto. Chegava no hotel precisando
esvaziar os peitos doloridos, e junto com o leite, vertiam as lágrimas, por
deixar ir embora líquido tão precioso. De longe, foi a parte mais difícil e
mais triste... quando finalmente cheguei em casa, o pai tinha ido buscar mininu
na creche e ele chegou dormindo... acordou poucas horas depois e mamou tudo o
que tinha lá, e não era pouco. Depois disso, nossas vidas não foram as
mesmas...
O peito passou a encher menos ainda,
parecia que meu corpo queria se vingar de mim por eu ter saído de perto da
minha cria. Luca não rejeitou o peito, pelo contrário, seguiu solicitando como
sempre. Parecia que eu nem tinha ido viajar. Inclusive o pai não notou mudança
no comportamento dele. Ele não topou mamadeira de noite, porque tinha brigado
com a dita cuja meses antes, mas topou uma frutinha amassada. No retorno, fez a
pazes com o artefato, com uma daquelas de recém nascido, antes de dormir,
depois da mamada oficial. Com leite de aveia, porque não sabíamos qual seria a
reação dele ao leite de vaca e queríamos prevenir qualquer efeito desagradável,
como de fato aconteceu meses depois.
O que era uma mamadeira de recém nascido,
foi crescendo até virar a maior mamadeira do mercado. O peito? Ah, esse
continuou sendo solicitado, pras sonecas do fim de semana, pras – agora raras –
acordadas da madrugada. Pro choro, pro dengo, pro amor, pro vínculo... no
reencontro da creche, que passou a acontecer em casa, com nós dois deitados na
minha cama. Sempre que ele pedia, rolava.
Vale dizer que isso foi acontecendo à
revelia da estratégia que eu tinha montado, de ir reduzindo determinadas
mamadas paulatinamente. A vida – e algumas das minhas opções, claro – me
empurrou a isso, e eu aceitei. Mas Luca foi ditando o ritmo, e na medida em que
ele NÃO chorava, eu ia diminuindo. Sem stress. Até que um dia eu saquei o peito
pra fora porque achei que ele estava com sono, e ele me mordeu. Guardei e pus
ele no chão. Uma semana depois, ofereci. Ele ficou com o peito na boca, meio
sem saber o que fazer, deu uma sugada e tirou a boca. Entendi. O lance agora é
a mamadeira. Só ela. Isso deve ter um mês, um pouco mais.
Uma das coisas mais curiosas desse processo
é que ele foi ocorrendo também à medida que Luca foi parando de colocar tudo o
que via pela frente na boca. Sim, sei que a fase oral se estende até os 2 anos
ou mais, mas sei também o que vejo no meu filho, que hoje não descobre mais o
mundo pela boca. Ele mama menos na mamadeira do que mamava no peito. Ele hoje
dorme a noite toda, e da chupeta sempre passou longe. Tendo a pensar que o
peito saiu de cena no tempo certo. Hoje ele se relaciona com as coisas por meio
das suas mãos, apontando para o mundo que está descobrindo, e que logo irá
nomear.
O que
teria acontecido se eu não tivesse viajado? Não há como saber, pode ser
que o peito continuasse na área. Pode ser que não. Também me pergunto o que
teria acontecido se eu não tivesse engravidado por um descuido. Provavelmente
estaria dormindo mais e melhor. Mas não há como saber. Ambas as perguntas são
inúteis, porque aconteceu o que tinha que acontecer, na hora que tinha que
acontecer. E que bom que foi assim, porque a chegada dessa pessoinha alegrou
muito a minha existência.
Se eu sinto saudade de amamenta-lo?
Muuuuita, mas muita mesmo. Tem horas que fico com vontade de oferecer de novo o
peito pra ele, de tirar a mamadeira, mas há coisas na vida que simplesmente não
há como retroceder. Eu me emociono cada vez que ele aponta pro meu peito
sinalizando que quer mamar. Tem horas que enfia a boca no meu colo, abaixa
minha blusa, até mesmo na rua. Mas é a mamadeira que ele quer. Porque a
mamadeira tem a quantidade de líquido que ele precisa. E ele sabe que tem a
mamãe pra dar o colinho que ele deseja. O pai me pergunta porque eu não dou de
mamar com ele no berço, como ele próprio faz. E eu respondo que é porque eu também me alimento dele nessa hora. E é
engraçado às vezes sentir a ocitocina pulsando nas minhas veias, mesmo com esse
instrumental entre nós. É muito amor. Muito amor.
O desmamadeirame? Bem, esse ainda não foi
planejado, tudo a seu tempo, então fica pra um outro post, junto com um
terceiro, no qual eu conto a saga da escolha do leite...