sábado, 26 de março de 2011

É um menino!

Nunca me imaginei ser pai de um menino. Por ter crescido numa família predominantemente feminina e ter sido pai de uma menina, nunca me passou pela cabeça que um dia teria um filho homem. Confesso que no início fiquei um pouco assustado, porque não sei como é ser pai de um menino. É desconhecido demais. Eu não tive exemplo de como cuidar de um menino, então vou ter que criar o meu próprio jeito de cuidar de você, neném. E pode apostar, vamos inventar várias coisas juntos, eu, sua mãe e você.

Só pra deixar claro que a questão do ser pai de um menino não tem nada a ver com preferências por um ou outro gênero, mas é que realmente nunca imaginei essa situação. Mas quem foi que disse que o óbvio que é melhor? Já estamos aqui há quase 8 meses de gravidez e pode ter certeza que já tenho vários planos de como vamos fazer as coisas. Aposto que vai ser bem divertido. Bem, pelo menos eu espero isso. Prometo que vou tentar, dentro de todas as minhas possibilidades, ok?

Pensando hoje, olhando para a minha própria trajetória, que é onde eu tento pegar os exemplos positivos e negativos para você, tenho medo que você se enfie em um terço das roubadas que eu me enfiei. Muitas delas são perigosas e desnecessárias mas acontecem, não sei se feliz ou infelizmente. Mas por outro lado eu sei que se não tivesse feito o que eu já fiz, não seria eu, mas sim outra pessoa e isso não teria a mínima graça, porque provavelmente eu não teria conhecido a sua mãe, não teria me apaixonado por ela e você não existiria. Simples assim.

Mas mesmo assim me preocupo em como ser pai de um menino. Já queria adiantar pra você que na parte esportiva não vai dar pra você gostar de futebol, porque eu não sei chutar uma bola em linha reta. Mas podemos escolher várias outras coisas, como o volei, lutas, piscina, etc. Mas futebol não, por favor. Hoje, você já está ocupando um espaço enorme dentro da barriga da sua mãe que está começcando a fazer com que ela não tenha posição para dormir, para trabalhar. A cada dia que passa, você faz questão de mostrar que está mais presente. Mexendo um monte (quando eu não estou por perto), crescendo a cada dia e fazendo com que tudo aqui fora seja mobilizado em função do dia em que você nascer. O mais interessante de nascer é que a gente já começa a dar trabalho antes mesmo de chegar. Mas é um trabalho legal, de expectativa, de vontade de ver como você vai ser.

E por falar em trabalho, será que tem como a gente fazer um pacto para não acordarmos de madrugada? Algo do tipo dormir meia-noite e acordar às seis da manhã pra mim já tá legal. Como todo mundo aqui gosta de dormir, acho que você vai gostar também. Até porque seu berço tá lá todo bonitinho e quentinho só pra você. Não tem motivo para você não querer ficar lá, ok? Combinados?

E por falar em dormir, acho que está na minha hora de dormir. Porque pra variar, amanhã a gente deve sair pra comprar alguma coisa pra você ou pro seu quarto.


e pra garantir se soninho já está preparada uma seleção musical de ótima qualidade. Escolhidas a dedo!!!

terça-feira, 22 de março de 2011

Plano de Parto de Heloiza, Eduardo e Luca

"Nesse momento tão especial de nossas vidas, sinalizamos aqui nossas preferências com relação ao trabalho de parto, o momento do nascimento, os cuidados com o bebê e na eventualidade de uma cirurgia, para que a vinda de Luca ao mundo ocorra de uma forma natural e humanizada. No caso de uma emergência durante o processo, estamos abertos a discutir outras possibilidades, mas gostaríamos de ser informados e consultados previamente antes de qualquer decisão.

Trabalho de parto
1.     Gostaria de ter a companhia, durante todo o tempo do TP e também no parto a presença de Eduardo, meu marido e Patrícia, fisioterapeuta que tem acompanhado a gestação e realizado, junto comigo, a preparação para o parto;
2.     Quero contar com a participação ativa de Eduardo, que irá me auxiliar com massagens e respiração entre as contrações, bem como oferecendo suporte afetivo e contribuindo para que minhas vontades, aqui expressas, sejam respeitadas;
3.     Prefiro ter liberdade de posição e de movimentação durante o trabalho de parto, bem como liberdade para usar o banheiro (não desejo a lavagem intestinal, caso mude de idéia, irei solicitá-la expressamente);
4.     Gostaria de manter o quarto com pouca luz e pouco trânsito de pessoas da equipe, sem barulhos externos e conversas alheias ao momento; levarei minha própria música, ouvindo se tiver vontade;
5.     Gostaria de ter liberdade para comer lanches leves e beber durante o trabalho de parto, e não quero que seja aplicado soro com o intuito de evitar desidratação;
6.     Gostaria que o monitoramento do meu bebê fosse feito apenas por meio do sonar e de forma não-contínua;
7.     Não desejo utilizar soro com ocitocina, somente se houver risco de hemorragia pós-parto; nesse caso, gostaria que o mesmo fosse utilizado apenas no período final do TP, para não interferir no andamento das contrações;
8.     Não desejo a raspagem dos pelos púbicos antes do parto;
9.     Não desejo utilizar nenhum tipo de analgesia e anestesia antes que recursos não-farmacológicos já tenham sido tentados; caso os deseje, solicitarei expressamente;
10. Quanto ao exame de toque, gostaria que esse fosse realizado apenas por minha obstetra, Caren, e somente quando necessário (de acordo com os padrões da OMS);
11. Não quero que a bolsa seja rompida artificialmente; caso ela rompa espontaneamente, e o TP ainda esteja muito no início, quero esperar o máximo de tempo (12h, segundo a obstetra) antes de iniciar alguma intervenção;

Parto
1.     Desejo que o parto seja realizado no próprio quarto, não desejando me locomover para o centro cirúrgico, somente em caso de emergência e depois de conversa prévia com Eduardo e Caren;
2.     Quero ter liberdade para escolher a melhor posição para o parto e o momento de fazer força, preferindo a expulsão prolongada; aceito que a equipe auxilie o processo, mas não que o conduza;
3.     Não desejo ficar deitada de costas, nem, em hipótese alguma, amarrada a estribos;
4.     Desejo um ambiente com pouca luz e poucas pessoas, sem barulhos externos e conversas alheias ao momento; utilizarei música levada por mim mesma, se assim desejar;
5.     Não desejo, em hipótese alguma, utilizar fórceps, ventosa ou manobra de Kristeller;
6.     Não desejo realizar a episiotomia; se for preciso, peço que seja dado suporte ao períneo ou feitas compressas quentes no local para prevenir lacerações.

Após o Parto
1.     Quero ter contato imediato com bebê após o nascimento, antes de qualquer exame, bem como realizar a amamentação ainda na primeira hora de vida;
2.     Desejo aguardar que o cordão umbilical pare de pulsar antes que seja cortado, o que será feito pelo Eduardo;
3.     Desejo aguardar a expulsão espontânea da placenta, com auxílio da amamentação;
4.     Alta médica o mais rápido possível.

Cuidados com o bebê
1.      Se houver necessidade da sucção das vias respiratórias, prefiro que seja feita por aspirador manual e não sonda, para conforto do bebê;
2.      Gostaria que a vitamina K fosse administrada via oral (primeira dose; as demais serão feitas em conjunto com o pediatra de minha escolha) e não por injeção, para maior conforto do bebê;
3.      Não quero que seja utilizado antibiótico oftálmico ou nitrato de prata nos olhos do bebê;
4.      Não desejo que seja dado banho imediatamente após o parto, nem utilizado qualquer produto, como glicerina, para remoção do vérnix do bebê; basta remover delicadamente o excesso de secreções com uma fralda ou pano;
5.      Quero que o bebê permaneça o tempo todo no quarto, mesmo na hora dos exames de saúde e testes físicos;
6.      Darei o primeiro banho no bebê, assim que restabelecer minhas forças; caso não tenha condições, Eduardo ficará responsável;
7.      Trocarei fraldas e amamentarei no próprio quarto; se ele precisar ir para o berçário, não quero que seja oferecida alimentação complementar de qualquer tipo, como água glicosada, chupeta ou bicos.

Em caso de cesárea
1.     Desejo entrar em trabalho de parto antes do encaminhamento para cirurgia;
2.     Desejo a presença do Eduardo na sala de cirurgia;
3.     Gostaria de ser informada de cada procedimento realizado durante a cirurgia;
4.     Gostaria de tomar anestesia peridural sem sedação;
5.     Desejo assistir a hora do nascimento, com rebaixamento do pano protetor;
6.     Quero ter contato imediato com o bebê após o nascimento e as mãos livres para segurá-lo, amamentando-o ainda na primeira hora de vida;
7.     Não desejo utilizar sedativos pós-operatórios, apenas analgésicos para controle da dor;
8.     Que sejam adotadas todas as recomendações referentes ao item anterior, para que eu possa cuidar do bebê de acordo com as minhas possibilidades."

PS. Depois de alguns meses de maturação, achei que era a hora de compartilhar com todos aqueles que não lêem esse blog como eu venho desejando que Luca venha ao mundo. Sei que gravidez é algo dinâmico, imprevísivel até, bla, bla, bla, mas acredito que quanto mais nos informamos, preparamos e planejamos esse momento, maior a chance de ocorrer conforme nossa vontade. Acredito que a mulher deve ter um papel ativo, protagonista mesmo, no nascimento de seu filho. E, mesmo que as coisas não saiam estritamente como planejado, ter um plano significa a possibilidade de fazer escolhas informadas. E algo para lembrar para o resto da vida...

sexta-feira, 11 de março de 2011

Une femme grossesse... à Paris

Passamos o carnaval em Paris. Isso, eu, Edu, e nossa barriga de quase 30 semanas. Para alguns pode soar loucura desabalar carreira num avião para 8 mil km de distância, mas para nós era a última oportunidade de fazermos uma viagem a dois, só nossa. Apesar de Luca estar sempre conosco, em pensamento e em barriga, será tudo muito diferente depois que ele nascer. A rotina com um recém nascido é muito puxada e dispendiosa. E depois que ele estiver maiorzinho poderemos, claro, fazer viagens dessa natureza com ele junto, mas também será diferente, pois não estaremos concentrados apenas em nós, nossos desejos e bem estar. O dele sempre virá primeiro.

Por isso, a vontade de fazer uma viagem diferente, da qual pudéssemos nos lembrar por muitos anos, era muito forte. Uma viagem que fosse também uma lua de mel, que não tivemos. E o destino, difícil de escolher, não poderia ter sido mais acertado: sempre quis conhecer Paris, desde criança era a cidade que mais me fascinava, com aquela torre de mais de 300 metros, que se pode subir até quase o topo. Além do mais, a cidade é encantadora, com seus predinhos baixos, seus parques, praças e museus. Um convite a passeios sem fim, auxiliados por uma linha de metrô que nos permitiu conhecer muitos pontos da cidade.

Eu achei que a viagem fosse ser bem mais incômoda. Afinal, foram 3 aviões, num total de 15 horas de viagem pra ir e 15 pra voltar, com pernas apertadas e ar condicionado no talo (que evidentemente me rendeu uma bela gripe no retorno a Brasilia). Mesmo tendo tomado o cuidado de reservar os assentos no avião com 3 semanas de antecedência, a TAP (ora pois!) conseguiu a proeza de tirar nossos nomes do sistema na ida E na volta (isso porque na volta eu tinha um papel impresso com os lugares marcados). O que salvou foi ter vestido uma meia de compressão, super desconfortável, quente e pouco prática pra ir ao banheiro – coisa que grávida quase não faz.  Mas melhor que carregar duas jacas como tornozeleiras depois...

A surpresa – feliz – ficou por conta da existência de uma banheira no quarto do hotel. Me acabei nela todas noites, depois das caminhadas longuíssimas que fazíamos pela cidade. Um escalda-pé de corpo inteiro, que garantiu com que não inchasse nenhum diazinho... Mas não me livrou das dores na lombar, no ciático, nos músculos das pernas. Só porque era Paris mesmo, porque tinha hora que era difícil manter o bom humor, sabe. Mas a vontade de aproveitar cada minuto falava mais alto...

No último dia me assustei quando eram mais de 19h e tudo o que eu tinha comido, além do café da manhã, tinha sido um crepe de jambon et fromage (o bom e velho presunto e queijo) de rua... a pressão deu uma caída, e eu lembrei que com um filho na barriga não podia me arriscar a uma hipoglicemia, sabe... esse foi o momento mais tenso da viagem pra mim, e fui logo atrás de uma glicose para segurar a onda até chegarmos num restô perto do Sena para comer um delicioso fondue. O Eduardo ficou tão preocupado que queria me apresentar um sandwich grec (sim, eles comem churrasco grego lá, e não é pouco), dizendo que só o fondue não ia me alimentar...

Então, isso foi um pouco pra ilustrar que viajar grávida tem seus ônus e bônus. Eu juro que não sentia fome, mas sabia que precisava comer, pra que Luca ficasse bem. E aí sentava – a melhor parte pra mim – pra comer. Vontade de tomar muito vinho não faltou, mas me controlei muito, e escolhi alguns momentos para degustar um bom vin... deu vontade de fumar também, porque os franceses fumam loucamente e o frio sempre me deu mais vontade de fumar também. Mas isso não deu pra abrir exceção. Bebês e cigarros definitivamente não combinam. O bônus foi não pegar absolutamente nenhuma fila pra entrar nos museus que visitamos, nem pra entrar na torre – e essa era quilométrica – e ter lugar garantido pra sentar no metrô (mesmo sem nenhuma placa de assento preferencial nos vagões), exceto nos horários de pico, porque aí tinha que disputar espaço com os velhinhos – e eles sempre ganham.

O único quase incidente foi na volta de Campinas pra Brasília, em que a mocinha da companhia aérea me fez assinar um termo de responsabilidade pela barriga. Acho engraçado esse procedimento, que se não for eu a responsável por uma barriga que eu mesma gerei, não sei quem poderá ser... mais engraçado ainda foi ter cruzado o Atlântico pra lá e pra cá com o barrigão e ninguém dos vôos internacionais ter falado nada, a não ser “que lindo!”, “de quantos meses?”, “menino ou menina?”, “boa sorte”, num sotaque purtuguêix carregadíssimo, e ter me deparado com essa aqui na esquina... enfim, assinei o termo, enfiei minha cópia na bolsa e vim-me embora, não sem trazer um pouco de Paris comigo, e deixado um pouco de mim lá, só pra ter uma desculpa para poder voltar...