quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Neném, qual é o seu nome?

Hoje fomos ao pediatra pela primeira vez. Conversamos muito sobre a saúde do bebê, o momento do parto, intervenções no bebê, amamentação... tiramos dúvidas e tudo correu muito bem.

O mais emblemático disso tudo foi que, ao chegar, a recepcionista me pediu para escrever os dados do bebê numa ficha, para o prontuário médico. E pela primeira vez, essa coisinha que tá crescendo aqui dentro de mim e que eu chamo de neném, filho, Luca etc., teve seu nome escrito:

Luca Egas François

Simples assim.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Empoderada pelo parto?

À medida que a gravidez avança, parece que o tempo passa mais rápido... ou então as tarefas aumentam. O fato é que não consigo vir a este mural eletrônico o tanto quanto gostaria. Entre trabalho, preparativos para a chegada de Luca e minha própria saúde, bem como a do casamento, vou tentando não perder de vista aquilo que acho importante registrar, as impressões e as opiniões que estão se formando dentro de mim ao longo dessa jornada.

Uma das coisas que tem me chamado a atenção, ultimamente, é o maniqueísmo com que vejo sendo tratado o tema do parto, ou melhor, do direito da mulher ao seu parto. Muito mais grave que enxergar as mulheres apenas como parideiras, é o desprezo que vejo em alguns discursos pelas que não conseguiram, ou não quiseram, um parto natural, sem intervenções e realizado em casa. Parece que essa paira como a maior realização de uma mulher, mais importante até do que ser mãe e criar bem o filho que está trazendo ao mundo. O discurso é supostamente empoderador, mas na verdade revela uma face individualista e autoritária, uma imposição do parto ideal – e da maternidade ideal. Fico querendo perguntar o que essas mulheres pensam sobre o aborto, e se fariam um caso a gravidez viesse num momento inoportuno...

Sou favorável a que mulheres – e homens, pois a gestação e o nascimento também têm que ser entendido como um momento deles – tenham acesso ao máximo de informações possíveis, para que possam fazer o que se chama por aí de uma escolha informada. Se depois de ler tudo sobre parto natural, parto normal, com intervenção, sem intervenção, no hospital ou em casa, a mulher (sim, a escolha final ainda é nossa, ta? Pelo menos eu penso e ajo assim...) ainda assim preferir enfrentar uma cirurgia para ter seu filho, que assim seja. Não acredito que será uma mãe melhor ou pior exclusivamente por esse critério. Nem que será mais ou menos realizada por ter passado pelo trabalho de parto.

Muitas vezes, o parto natural não é possível. Muitas vezes, a mulher acha que vai segurar a onda da dor e não segura. Muitas vezes, o bebê prega uma peça no meio do trabalho de parto e precisa ser retirado da barriga da mãe às pressas. E ainda bem que temos recursos para isso, pois cesáreas bem indicadas salvam vidas! Pode ser frustrante logo de cara, mas o que vem na seqüência é algo tão maior que o parto, e que a própria mulher, que acho que o lance é ter a cabeça fria e se concentrar pra amamentar, pra dar banho, trocar fralda e se preparar para as noites em claro que irão – mãe e pai – passar, dando mais conforto a essa vida que acaba de chegar. Só que a pressão durante a gravidez é tão grande, que a mulher acaba se sentindo uma fracassada porque as coisas não ocorreram como ela idealizou... Dor e sofrimento desnecessário, pior do que qualquer dor de parto.

Para mim, é importante vivenciar o processo do ponto de vista fisiológico do começo ao fim, tanto que estou me preparando para isso. Não terei meu filho em casa, como gostaria, porque meu companheiro não se sente seguro com essa opção. E para mim é mais importante tê-lo ao meu lado inteiro, concentrado e seguro ao longo do processo, do que usar as toalhas brancas lá de casa para limpar Luca quando ele sair daqui de dentro. E, ainda assim, alternativas não faltaram. Procurei o hospital que mais se adequasse ao meu entendimento sobre o parto, uma médica que fosse sensível às minhas demandas e respeitasse minha voz de mulher, mãe, grávida, parturiente e o que mais eu for nesse momento, uma acompanhante para o parto, um pediatra para antes do nascimento e o máximo de informações sobre todas as variáveis que podem ocorrer na gestão, trabalho de parto, parto e nascimento, para elaborar um bom plano de parto, que fosse respeitado por todos que escolhi para estarem perto de mim no dia que meu filho resolver vir ao mundo.

Mas, sabe, não condeno quem pensa diferente de mim, nem julgo quem, simplesmente, não pensa. Como li sabiamente outro dia, cada mulher tem o parto que tenta, deseja, e consegue.

Só acho que essas mulheres que defendem ferrenhamente o direito de um parto como tiveram as avós de nossas avós, deveriam estar mais preocupadas em questionar a prática médica, hoje majoritariamente, pelo menos na rede privada, favorável à extração cirúrgica do feto. Uma prática autoritária, que parte de uma suposta superioridade baseada no conhecimento científico, das benesses financeiras de receber por uma cirurgia, e da comodidade de saber que horas vai chegar em casa. E que desconsidera o direito da mulher de conhecer seu próprio corpo. Para muitas isso é conveniente. Para outras, é uma tortura, uma encruzilhada da qual não sabem como se desvencilhar, e que gera angústia e culpa quando as coisas não saem como ela deseja. Os poucos médicos que caminham na contra-corrente cobram caro pelos seus serviços e o SUS, onde as recomendações da OMS sobre o parto conseguem ser mais ou menos aplicadas, tem profissionais mal orientados, com sobrecarga de trabalho e toda uma cultura intervencionista atuando contra eles. Sem falar na falta de anestesia e de leitos, é claro.

Difícil ter um parto humanizado em condições tão desumanas...

Confesso que não tenho disposição para militar em prol da humanização do parto em espaços como os que vejo disponíveis por aí. Parece uma competição, um monte de mulher querendo dizer que seu parto foi o melhor, e ela a mais valente. Fora as neuras da maternidade, como se mais nada existisse no mundo, só a cria.

Acho que tem uma discussão anterior, na qual a mulher precisa ser enxergada como um ser humano na sua totalidade, não só na maternagem. Enquanto as mulheres não forem, de fato, soberanas de seu próprio corpo e autodeterminadas em seu destino, muitas desnecesáreas continuarão ocorrendo mundo afora... e continuaremos sendo maltratadas e subjugadas nas maternidades, subestimadas em nossa capacidade de gerar e parir.