quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

uma ilustre companheira

Olá, Barriga,

Muito prazer, meu nome é Heloiza, e agora você faz parte do meu corpo. Sei que não é pra sempre, mas atualmente você anda crescendo a olhos vistos e, de dois dias pra cá, é praticamente impossível não notar sua presença. Aliás, já reparei que v. exerce um certo fascínio sobre as pessoas. Todo mundo quer por a mão em você. As pessoas enxergam primeiro você, depois a mim. Meu marido tenta disfarçar, mas ele sofre do mesmo problema. Na verdade, acho que é um pouco de inveja, porque ele não pode carregar você no meu lugar, sabe...

Confesso que achei que não fosse ligar tanto, mas me incomoda o fato de descobrir que v. tem muito mais facilidade para fazer amizades, em 4 meses, do que eu tive em 30 anos...

Bem, acho que daqui pros próximos 6 meses, não vai adiantar muito querer competir com você, porque sua escalada é morro acima, ou à frente, dependendo do referencial. Então, muito humildemente, gostaria de pedir algumas coisas, para garantir nossa convivência pacífica nesse tempo que passaremos juntas:

- Não fique cheia de estrias; de minha parte, passarei creme em você todos os dias, um daqueles bem grossos, pra te deixar bem hidratada, mas preciso que v. colabore e vá esticando devagar, para que as marquinhas brancas não apareçam; não se esqueça que elas vão te atormentar também depois que o neném sair daí de dentro...

- Sei que v. quer garantir um lugar confortável pro bebê, mas não cresça demais, senão o peso sobre as costas será insuportável de carregar; o que eu farei é comprar roupas bem confortáveis para te abrigar, mas se você crescer demais, vai ficar meio difícil achar algo que fique bem...

Bom, se tiver dois nenéns aí, paciência... a vida vai ser mais difícil pra nós duas...

Não fique acumulando líquidos; se eu bebo muita água, é pros rins trabalharem e liberarem tudo rapidinho;

- Por favor, por favor, não acumule gases também... v. não sabe como é desagradável e nada aceito socialmente ficar soltando odores em lugares públicos e privados quando não se está sozinha...

Ah, sim, e mais importante... depois que o neném nascer, entenda que seu trabalho está terminado... não fique querendo estender sua estada por aqui além do necessário... sem ressentimentos, ok, mas esse corpo não te pertence...


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mudando de órbita

Quem me conhece sabe que me expresso bem pelo universo das letras... gosto de ler, escrever, sistematizar, elaborar, revisar... tudo que mexa com palavras, é minha praia. Por isso fui pega de surpresa quando me vi com dificuldade de escrever sobre a gravidez. Esse foi o primeiro escrito sobre o assunto, pouco mais de um mês depois de descobrir que tinha um neném se formando dentro de mim e que acabou perdido e encontrado apenas hoje... Coisas de neo-grávida, mas que resolvi dividir aqui, já que esse blog, de um jeito ou de outro, é pra isso mesmo.


“Já tem dias que estou ensaiando escrever, mas não o faço... minha vida está começando uma mudança gigantesca, e eu nem consigo de dar conta por completo disso. Ter um filho... me anima a idéia, demais, esse era um desejo antigo. Ao mesmo tempo, são muitas as questões que isso acarretou e irá acarretar daqui por diante... gestar, parir, cuidar, amar, sustentar, apoiar, escutar, tantos verbos que exigem uma doação tremenda da minha parte a partir de agora...

Começo a me perceber pequena diante da enormidade que isso significa... deixando de girar ao meu redor apenas... preparando-me para mudar de órbita.

Um engano achar que já não mudei. Posso apenas não ter percebido, em parte porque ainda estou envolvida com minhas questões individuais... como será a vida daqui pra frente? Como será a relação com o Edu, como será o trabalho, como ficará meu corpo com barriga e depois da barriga, como ficará minha mente... meu parto será normal, vou suportar a dor, terei leite, vou segurar as pressões... as perguntas parecem não ter fim.

Hoje, quando me vi com a disposição baixando, com dificuldade de me concentrar, de achar uma posição confortável, me incomodei com o que está por vir. E senti pela primeira vez a ambigüidade de que tanto se fala a respeito das neo-grávidas. De estar feliz e ao mesmo tempo não querer abrir mão da vida construída até aqui, tão ajeitadinha, mesmo que seja na sua própria bagunça... Mas a coisa foi fluindo, e ficando melhor, a cada dia... a relação com o Edu se fortalecendo, a ausência de enjôos, o sono se restabelecendo sem alopatia nenhuma, a animação pra cuidar da saúde... o abandono do cigarro, dos maus hábitos alimentares, e a consciência de que já não faço isso mais apenas por mim, por minha saúde ou por minha beleza... mas porque alguém mais me mobiliza e me movimenta nesse sentido. Já não sou mais dona de mim.

Talvez seja isso mesmo o que me espera... experimentar sentimentos de plenitude e de falta, um atrás do outro... mas que momento da vida não foi assim? Talvez agora seja até mais fácil de vivenciar a oscilação. Ela tem uma razão de ser tão maior que ela mesma, que já não me incomoda mais. Vou simplesmente me concentrar no que está por vir e aceitar as coisas como elas tem que ser. Ok, tendo que lidar com todos aqueles ‘como será’, lá do começo, além da insegurança de estar ou não um filho perfeito... domar a curiosidade de saber como ele será antes dele estar pronto... No fundo, não me importa se menino ou menina, se gêmeos (calma, amor), me importa que venha perfeito, saudável, e que eu não seja responsável por lhe causar nenhum mal antes de saírem de dentro de mim...

Ainda tenho muitas questões a trabalhar e a viver, e me parece que é tudo muito rápido, pois a gravidez só dura 9 meses (tá bom, 10...). Quantos anos eu não passei pra entender meus grilos? Como dar conta desses que chegam em tão pouco tempo? Fico aliviada por finalmente estar começando a escrever as perguntas, mas onde isso vai parar? Onde estarão as respostas?”

sábado, 27 de novembro de 2010

Cada um no seu quadrado

Malu-Luca,

Mamãe está particularmente feliz, e resolveu fazer como seu pai e te escrever também. Está satisfeita porque um trabalho muito importante para ela está sendo finalizado de forma bem-sucedida e agradando a todos, apesar de todo o rebuliço que você vem causando dentro de mim nos últimos meses. Não me entenda mal, estou muito, muito feliz que v. está aqui dentro, se desenvolvendo e crescendo a cada dia. Sua mãe queria muito ser mãe e, de quebra, te descolou um pai massa, que também é um marido e um companheiro maravilhoso.

Mas acontece que pra você crescer direitinho aqui dentro, o corpo da mamãe teve que passar por uma série de modificações. Bem, você não me causou enjôos, e eu te agradeço imensamente por isso. Só por isso já te acho uma pessoa mais legal, e olha que v. nem me chamou de mãe ainda... Mas uma dessas mudanças é que eu fiquei mais lenta, mais distraída, com dificuldade até de trabalhar. Passei por apuros, e cheguei a pensar que nada mais seria como antes. Agora, que eu já estou mais acostumada com você aqui dentro, as coisas aos poucos estão voltando à normalidade, e a mamãe está voltando a produzir como antes.

A segunda coisa que está me fazendo especialmente feliz é que hoje foi o dia que v. efetivamente ganhou seu quarto. Bem, ele ainda não está do jeitinho que v. vai ver quando sair daqui de dentro, porque eu mesma não sei bem como ele vai ficar. Gostaria primeiro de saber se v. vai ser Malu ou Luca para deixar a imaginação fluir, sabe?

Mas a história é a seguinte: quando a mamãe casou com o papai e veio morar em Brasília (depois você pede pra ele te explicar o que é Brasília), viemos morar nesse apartamento de dois quartos, pensando em montar um escritório no segundo quarto; aí você chegou e o quarto passou a ser seu. O problema é que o escritório ficou montado pela metade, e os livros – maioria da mamãe, porque o papai prefere ler figuras – ficaram dentro das caixas da mudança, porque não tinha outro lugar na casa para eles.

Bem, aí fomos atrás de resolver isso, e te entregar seu quarto como é devido, até porque nem eu nem seu pai gostamos dessa história de você dormir no mesmo quarto. Sabe o que é? Tenho certeza que sua companhia será adorável, até de fraldas sujas e berrando de fome, mas é importante v. ter seu cantinho, desde sempre, e a mamãe e o papai terem o deles... Cada um no seu quadrado, sabe? Não? Bom, quando v. estiver com uns 12 anos você vai entender o que eu quero dizer... Aliás, v. vai agradecer imensamente. Enfim, voltando ao tema, saímos correndo atrás de alguém que construísse um lugar pros livros morarem, lá dentro de casa mesmo, para você poder ter o quarto todo só pra você. E ontem o lugar dos livros, que se chama estante, chegou lá em casa, o que significa que a gente vai poder montar o seu quartinho também.

Como eu te disse antes, não sabemos ao certo como ele vai ser, só temos algumas idéias. Juro que se eu pudesse, te perguntava como v. gostaria que fosse, mas eu e seu pai vamos ter que nos virar e torcer pra v. gostar e sentir-se realmente em casa, como eu imagino que v. se sente aí dentro... Mas isso não importa agora; o importante é que o espaço já está aberto para a gente começar a pensar nisso. E isso me faz sentir você cada vez mais perto de mim, embora v. ainda seja tão pequenino e não possa me ouvir e nem se comunicar comigo por meio de chutes (que, aliás, é um jeito de estranho de demonstrar amor, se me permite a sinceridade desse momento íntimo entre mãe e filho...)...

Um beijo,

Da sua mãe.



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Instruções para nave mãe

Estamos em 2010. Você vai nascer em 2011. Dizem que o mundo vai acabar em 2012. Mas não preocupa não, porque já disseram isso em 2000 e nada aconteceu, nem os computadores falharam. Computador é aquela coisa que você vai ver eu e sua mãe mexendo e que você também vai adorar ficar batendo nas teclinhas e babando no teclado. Mas voltando às previsões, o que vai acontecer é que em 2012 você já vai estar andando e fazendo as primeiras artes graves como brincar com os cd´s (da mamãe), tirar os livros das estantes, tomar alguns tombos e beber água do vaso. Esse último, só faça quando ele estiver limpo, por favor.

Hoje, você tá aí dentro da nave mãe, no escurinho e cercado de água. Deve ser bem gostoso e tranquilo. Pena que eu não lembro quando estava na barriga da sua vó pra poder falar exatamente como era. E seu pai não acredita nessas coisas de regressão. Seu pai, essa expressão é nova, né? Então. Eu sou seu pai. Como sempre digo pra sua mãe, sou bonzinho e não vou te encher muito a paciência com exceção da escola que não abro mão de que você se esforce bastante, assim como faço com a sua irmã. Mas isso ainda tem tempo pra acontecer.

Sim, você já tem uma irmã. Ela é uma coisinha linda só que não vai dar pra vocês brincarem juntos porque ela é um pouco mais velha que você. Quase 17 anos. Tá bom, não briga comigo, porque você não vai ter a chance de roubar ou quebrar as bonecas dela, mas prometo que você vai gostar dela, até porque não tem como não gostar. Se tudo der certo, ela vai viajar no início do ano que vem para estudar no Canadá e vai voltar perto de você nascer ou até depois, não sei ao certo. Canadá. Um país, como o nosso Brasil. Quer dizer... Ele é um país, o Brasil também. Mas infelizmente não são nada parecidos até porque eles tem Alces, bichos que parecem cavalos preestóricos com chifres imensos, ursos e campeonatos de lenhadores. Mas o Canadá é um país legal. Um pouco frio, mas sua irmã deve se dar muito bem lá porque está indo para estudar e tem que aproveitar ao máximo essa viagem pra depois te ensinar alguma coisa que aprendeu lá.

Nesse exato momento, enquanto você cresce dentro da sua mãe estou preocupado com as costas dela que deu um jeito na academia e com a definição da equipe econômica do governo. Não liga para as minhas preocupações desconexas, mas é que seu pai aqui tem um probleminha de concentração e faz várias coisas ao mesmo tempo. Olha pelo lado bom. A gente vai poder brincar enquanto eu falo no telefone e assisto televisão ou lavo a louça (Quer dizer. Enquanto coloco a louça na lava-louças que sua mãe vai comprar pra gente). Você vai se acostumar. Prometo. Hoje é a primeira vez que eu escrevo algo relacionado a você, neném (essa coisa de não saber se você é menino ou menina me deixa um pouco confuso). As coisas mudaram um pouco de um tempo prá cá, sabe. Antes eu acordava e pensava como sua irmã estava, se tudo estava bem ou não. Depois foi sua irmã e sua mãe. Agora são sua irmã, sua mãe e você. Tá ficando cheio. Mas eu sou grande e cabe tudo aqui dentro, sem ter que tirar de ninguém.

A minha grande pergunta hoje é se você é menino ou menina. Se curiosidade matasse, juro que você já não me conheceria. Mas tá chegando o dia de saber se teremos que comprar lacinhos ou carrinhos. Mas não importa qual dos dois, você vai ser um neném, nosso neném e vai ser igual se fizer xixi para o alto ou não. E já vai nascer rodeado de gente que gosta de você, porque aqui fora tem avô, avó, mãe, pai, amigos, tios, bisavó e em breve cachorro e papagaio. Mentira, papagaio não vai rolar. Papai não gosta de passarinhos.

Neném. vou terminar esse comunicado de instruções para a nave mãe agora, porque a primeira presidente mulher (presidenta) do Brasil (lembra que esse é o nosso país, mas não é o Canadá) vai anunciar quem vai cuidar da economia pelos próximos anos e o papai precisa ir lá saber disso para informar os gringos (inclusive os canadenses). Mas depois eu explico como isso funciona. Fica aí direitinho e não inventa de fazer bagunça dentro da sua mãe. Ela detesta coisas bagunçadas.

Beijos e até mais tarde.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Gravidez não é doença!


Sabe aquelas doenças que toda criança tem? Sarampo, catapora, caxumba? Pois é, eu nunca tive nenhuma delas. Também nunca quebrei o braço ou a perna. O máximo que passava perto de hospital era pra ir num pronto socorro infantil perto de casa pra fazer uma inalação quando ficava gripada. Então, exames de sangue, consultas médicas, diagnósticos e receitas nunca foram uma rotina na minha vida. Mas quando fiquei grávida...


Quando fiquei grávida adotei pra mim a máxima de que gravidez não é doença. E não é mesmo. Tem os temidos enjôos, é verdade, dos quais não faltam histórias pra contar. Eu mesma, não tenho nenhuma, queridos leitores, sorry. Mas posso dizer que a gente fica mais cansada, é verdade, por conta do aumento de líquidos no corpo e dos hormônios. E com muita, mas muita vontade de fazer... nada. Bom, há também o problema – para os outros – das oscilações de humor. Tirando um ou outro pirepaque – com o marido, sempre ele – nada tão grave que prejudicasse minha reputação.

Bom, tem uma série de outros desconfortos, principalmente nos primeiros três meses, que eu acho que variam pra cada uma. No meu caso, nenhum deles me impediu de trabalhar, ainda bem, porque a relação com o trabalho muda e isso é uma coisa que eu tive dificuldade nesse começo de barriga. Mas outra hora falo disso.

Agora, que to entrando no segundo trimestre, as coisas estão mais amenas, e parece que a gente se acostuma com a idéia da barriga crescente. Uma coisa que não tem fim, porém, são os exames. Porque gravidez não é doença, mas chama doença.

Primeira consulta médica, a obstetra nem olhou direito na minha cara e já foi preenchendo trocentas guias médicas: hemograma, urina, HIV (outro dia eu li que esse é o tipo de exame que pode dar um falso positivo na gravidez, já pensaram o pânico?), rubéola, glicemia, putz, nem lembro mais. Depois, cultura de urina, e mais, hepatite, coombs (que é pra monitorar o fator RH, no caso de mãe negativa e pai positivo, como é o nosso), toxoplasmose (que nome horroroso!!!)... afff... Um hipocondríaco se sentiria no reino dos céus. E eu, que nunca tive medo de agulha ou motorzinho de dentista, não estou vendo a menor graça em ter que tirar sangue mensalmente. E olha que ainda tem mais da metade da gravidez...

Enfim, eu fico reclamando, mas no fundo, a gente acaba tendo que ser um pouco objetiva. Aliás, se tem uma coisa que a gravidez está me mostrando, são os caminhos pra ser um pouco mais prática e um pouco menos elocubrante... divagar é legal, mas o neném não espera, não. Ele vai se desenvolvendo aqui na pança, e se eu quiser que ele nasça belo e saudável, tenho que ir no ritmo dele... Aliás, acho que a partir de agora eu nunca mais vou poder ditar o ritmo da minha vida... o eixo se deslocou, e é um processo que não tem volta. Mas falar disso fica pra outro momento.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

dia de estréia



Somos, como tantos outros, mais um casal apaixonado que, decidindo construir uma vida em comum, embarcou na aventura – mais ou menos planejada – extraordinária que é gerar uma nova vida. Diferente de muitos, no entanto, que dizem que esse é um mundo hostil pra se criar uma criança, achamos que trazer uma vida ao mundo não é lhe proporcionar apenas experiências de um céu de algodão doce num mundo de rosas.

Para nós, fundamentalmente, trazer esse filho ou filha ao mundo significa a certeza de que a existência não termina em nós mesmos, e que a vida é uma experiência única que vale a pena conhecer.

Esse blog é pra registrar um pouco das nossas impressões, ansiedades, desejos, o bom e o mau humor da gravidez e também pra compartilhar um pouco com as pessoas mais queridas o que está se passando conosco nesse tempo em que esperamos Malu ou Luca.

Nos vemos por aqui,

Helô e Edu
Brasília, primavera de 2010