quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Primeiros vícios

Nosso personagem começou o quinto mês dormindo três noites inteiras e tirando muitas sonequinhas ao longo do dia. Rendeu a mãe e o pai, que estavam com as olheiras batendo no chão... Infelizmente, a nossa alegria durou pouco e, apesar do sono não estar tão interrompido quanto no começo do mês passado, Luca tem dia que nos dá um certo trabalho pra dormir... Morto de cansado, coçando os olhos e a orelha, puxando o próprio cabelo, querendo qualquer coisa pra sugar, e nada de fechar o olho... uma tortura pra ele e pra mim, que não aguento ver o bichinho se contorcendo em reclamações...

Mas nem tudo são dificuldades e, outro dia, depois de um sono bem esticado ele acordou no meio da madrugada todo serelepe e, depois de uma bela mamada, nada do sono fisgá-lo... Fiquei um pouco com ele na cadeira de balanço, fazendo cafuné, e nada... quando fui dar o outro peito, o leite começou a voltar e eu vi que não me restava outra opção além de tentar fazê-lo dormir no berço... O pai estava acometido com uma alergia no olho e, por precaução, ficou longe do neném por alguns dias. Até então, só com Edu é que Luca topava dormir no berço. Comigo não era outra coisa que não reclamações.

Como eu sou brasileira e não desisto nunca, lá fui. Botei mininu no berço, sentei no banquinho que fica do lado justamente para essas horas e lá fiquei, munida de toda a paciência do mundo, esperando ele se render... vira prum lado, vira pro outro, levanta as pernas, pratica um pouco de nenenzês... cheira um bonequinho, cheira o travesseiro, boceja... cubro-o, ponho a mão na sua barriga e começo a balançá-lo. O guri cata meu braço e segura, e vai quietando, quietando... até que fecha o olho e dorme... Viva!!! Yes, we can! Tudo bem que minha alegria durou pouco, porque ele acordou uma hora depois inacreditavelmente com fome, mas foi tão bom descobrir que meu pequeno pode sim, dormir com a mamãe, sem o peitinho da mamãe...

Bem, no mais Boluca anda um guri cada dia mais esperto. Já entende quando o chamamos pelo nome, e se vira em nossa direção. Emite sons cada vez mais variados, gargalha com algumas brincadeiras e começou a sentir as primeiras cócegas, dando risada delas. E descobriu seu primeiro vício: virar de bruços tão logo se veja em uma superfície plana (às vezes a compulsão é tão forte, que sentado no nosso colo ele tenta realizar a manobra...). Tem dias que até dormindo o menino pende de um lado e de outro, e não raro quando vou pegá-lo no berço, ele já girou uns 200 graus... Mas nem tudo tem graça nessa fase: outro dia, no trocador, balançando de um lado pro outro, Luca escorregou e quase se esborracha no chão... eu é que o peguei já em movimento descendente... coração na mão, mas mininu nem se abalou.

Enfim, percalços à parte, fato é que, de barriga pra baixo, já não precisa de ajuda com os bracinhos, que já sabe como tirar debaixo do corpo, e consegue virar para os dois lados. Outro dia, em plena madrugada, ouvi-o acordando conversando com seus amigos de berço, e quando olhei no relógio vi que era hora da mamada... Levantei, quando chego no quarto, lá está o gurizinho, com o bumbum empinado, brincando de superman... Desvirar-se é um processo mais difícil. Ele já fez algumas vezes, mas na maioria do tempo, quando ele cansa da posição, logo começa a reclamação.

Ele também já consegue se arrastar um pouco pelo tapetinho, pra frente e pra trás, e já faz movimentos conscientes em busca de objetos que despertam seu interesse, sejam os bichinhos coloridos que ficam à sua disposição, seja o celular, o controle remoto, o computador, as almofadas do sofá e por aí vai... O cuidado está sendo redobrado, e alguns brinquedos já entraram na lista de proibidos: como ele coloca tudo na boca e começa a morder, chupar e sugar loucamente, às vezes pode ser machucar. Outro dia mesmo a gengiva chega sangrou com um desses brinquedos mais duros... Pobre do pai, que estava sozinho em casa com o bichinho. Quando eu cheguei, estavam os dois com cara de assustado, e Edu foi logo me passando o pequeno, que já não chorava, mas estava doido por um peitinho pra se confortar...

Esse mês também foi de estréia na piscina, e a farra foi boa. O guri não demonstrou medo nenhum da água, mesmo quando sua mãe quase deu-lhe um caldo – sem querer, claro... Mininu adorou aquele ambiente parecido com a barriga, só que com muito mais espaço para bater perninhas e bracinhos... Só não curtiu muito quando as crianças maiores faziam bagunça demais, espirrando um monte de água nele. Mas nada de traumas, Luca leva jeito pra lambari.

Se o primeiro vício foi virar, o segundo é sentar. Essa foi a grande novidade do mês, a capacidade de ficar sentado sem apoio, por vários minutos. Luca já vinha dando mostras de impaciência quando o colocávamos deitado, em qualquer lugar que fosse. Comecei, nessas horas, a sentá-lo e segurá-lo, e ele sempre se acalmava. Agora, quando o colocamos sentado, ele já consegue se sustentar, e até olha pra cima quando o chamamos, ficando com a postura cada dia mais ereta. Às vezes ele se empolga demais e, num movimento mais brusco, tum! cai de costas, ou de frente, hehehe... Se está na nossa cama ou no berço, nada com que se preocupar, mas no chão, no tapetinho, todo cuidado é pouco... Outro dia abriu o berreiro porque bateu a testa na comoda onde fica o trocador, enquanto eu o penteava sentado... Eu tava segurando, claro, mas mininu fez uma força pra frente tão  grande, que não consegui segurar e lá foi ele. Mas a fixação com a nova posição é tanta que ele fica fazendo abdominal, numa tentativa de se levantar sozinho: de frente, quando está no carrinho, ou semi deitado, ou de lado, quando está deitado no tapetinho.

Sentar-se sem apoio é um dos requisitos para começar a comer alimentos sólidos, já me disseram outras mães, a pediatra e as leituras que faço por aí... O outro é efetivamente se interessar pela comida dos adultos. Ao que parece, Luca puxou da mãe e do pai o gosto pela comida e não pode ver a gente comendo que para o que está fazendo para olhar, na maior curiosidade, o que tanto a gente põe na boca... Já por duas vezes ele tentou tomar uma fruta da minha mão até que não resisti e satisfiz sua curiosidade. Comendo uma mexerica, tirei o caroço de um dos gomos e aproximei da boca dele... Mininu começou a chupar aquilo com gosto, e quando tirava de perto, me olhava com uma cara de “por que parou, parou por que?”... E anda cada dia mais ousado: outro dia Edu tava tomando sorvete, com Luca no colo, e não é que mininu mete as patinhas no pote e abre o bocão, como quem diz “eu quero, eu quero!”? Dias depois, descobri que quem dá mole com o sorvete é o pai, pois Letícia, sua filha mais velha, também já tentou fazer o mesmo quando era bebê. Tudo devidamente registrado e arquivado pela vovó Elaine.

Bem, com os seis meses se aproximando, uma nova fase vai se inaugurar na vida dele. Não dependerá só de mim para se alimentar, e experimentará um novo mundo de cores e sabores na vida. Não sou daquelas que acha que a transição para a alimentação complementar é uma ciência exata, que precisa começar no seu 180º dia de vida. Pelo contrário, sempre achei que seria necessário observar os sinais dele, e ele já está me dando. Com isso, minha meta de completar 6 meses de amamentação exclusiva está cada dia mais perto de ser cumprida, e com sucesso, afinal Luca só ganhou peso durante todo o tempo, estando sempre – um pouco – acima da curva de crescimento. Assim, quando ele completar seis meses, vamos fazer a coisa sem pressa, primeiro despertando nele a curiosidade, o interesse e o prazer em se alimentar de outra coisa que não de leite. E até que eu efetivamente volte ao trabalho e ele vá pra creche, continuarei fazendo do meu leite sua fonte principal de alimento. Aos poucos, ele irá variando seu cardápio e buscando o que precisa para continuar crescendo forte e saudável de outras fontes. E continuará com o leitinho pelo menos até um ano, quando pretendo começar o desmame do meu bezerrinho.

Com isso, ninguém sai perdendo, nem ele, que continua contando com todos os nutrientes que só o leite materno proporciona, nem eu, que amo amamentá-lo com algo que meu corpo por si só dá conta de produzir, vendo aqueles olhinhos me olharem, aquela boquinha vazando leite e aquele sorrisinho banguela satisfeito depois de encher a pancinha...