(Esse
texto, pra variar, começou a ser escrito meses atrás, e só agora eu o retomo. A
vida vai encaminhando a gente pra onde ela é mais premente, e nos cabe acompanhar...
Nesse meio tempo voltamos de férias, começamos um trabalho novo, mudamos de
casa, estamos vendo dentes nascer, mudando o tipo de fralda e até indo ao salão
cortar o cabelo pela primeira vez. E com tantas novidades e acontecimentos
cotidianos se passando, quando a pulsão de escrever e compartilhar retorna, a
gente atende, pois sabe que é a hora...)
Ultimamente, de forma mais ou menos
contínua, eu tenho percebido em mim uma necessidade intensa de estar perto de
Luca. Tenho ímpetos de parar tudo que estou fazendo e ir busca-lo na creche.
Impulso de ir dormir no quarto dele à noite. Uma vontade de sentir seu cheiro,
estar perto da sua pele, grudados e inseparáveis, como fomos um dia.
Tudo começou no final do ano passado,
quando iniciei um processo de questionamento interno das escolhas após o fim da
licença maternidade, da minha vida profissional versus as necessidade de Luca,
da nossa vida financeira se apenas o Edu fosse o responsável pelo sustento da
casa, e eu arcasse com a tarefa do cuidado da casa – e das pessoas que a
habitam. Isso porque Luca passou uma fase difícil na creche, não queria ficar
lá de jeito nenhum, nenhum dia. Com nenhuma das educadoras, até a que ele mais
adora. Pra mim foi torturante ter que deixa-lo em lágrimas ali naquele local,
longe mim, dia sim e outro também. Por mais que ele se acalmasse rápido, às
vezes até na minha presença, e depois seguisse bem o resto do dia, me odiava
por fazer isso. E me sentindo muito mal por não ter como ficar com ele antes
que as férias começassem, pois tinha um contrato de trabalho a honrar.
Mas felizmente logo vieram as férias, e
curtimos à beça essa simbiose em tempo integral, vi meu bebê virar um papagaio
tagarela, começar a formar frases, comer sozinho e crescer, crescer e crescer.
Luca teve seu primeiro Natal, que nunca nem fiz muita questão, mas vibrei ao
vê-lo seguir com a gente noite adentro na janta familiar que fizemos por aqui,
super companheiro. Justo ele que adora dormir antes de escurecer e acordar
antes de clarear... rsrsrs... No ano novo a coisa quase se repetiu, mas quando
sentimos que ele estava pelas tabelas, viemos pra casa, e celebramos a chegada
de 2013 a dois, com ele dormindo placidamente.
Também nas férias, decidimos desmontar o
berço e abrir para Luca novas possibilidades para a hora de dormir, com mais
autonomia para ir e vir da sua cama e de seu quarto. Não foi simples, o guri se
mexe demais, e não foram poucas as vezes que fomos resgatá-lo obstruindo a
porta ou deitado no meio do chão frio, chapado, dormindo profundamente e sem
acordar ao ser “guinchado”... Passamos mais uma temporada na casa dos meus
pais, que também curtiram demais as novidades que essas visitas sempre levam
pra vida cotidiana deles – e pra de Luca também. Vimos amigos, amigas, filhos
de amigos, e eu sempre percebendo em Luca o grude, a necessidade constante de
não se separar de mim por nenhum momento.
E à medida que foi se aproximando o dia de
voltar pra creche, fui eu pensando como
ia ser, se ele ia chorar, se ele ia querer ficar. E construindo cenários
imaginários na minha cabeça para o caso de ele não querer, de ser sofrido
demais. Fui preparando mininu pra esse novo começo também, falando pra ele que
ele ia voltar pra creche, que a mamãe ia voltar a trabalhar. E Luca fala:
“não”. Putz. Lá vou eu explicar pra ele, da forma mais simples possível, que
era preciso, e que ele ia ficar bem.
Apesar de toda receptividade da creche para
a minha preocupação, eu sabia, dentro de mim, que não se tratava do atendimento
que ele recebe lá. Trata-se da nossa relação de mãe e filho, desse binômio
HeloizaLuca que cada dia que passa começa a dar espaço à mãe e ao filho como
indivíduos emocionalmente integrais. Luca está às portas de completar 2 anos, e
tem dias que eu queria que ele fosse um bebezinho que só dormisse no peito,
como foi por tanto tempo. Que ele fosse leve o bastante para que eu ficasse
horas com ele no colo sem sentir dor na coluna. E que ele quisesse ficar horas
no colo, pois hoje em dia seus interesses são outros.
Luca nasceu descobrindo o mundo com a boca,
depois passou para os olhos, as mãos, agora os pés. Quer ter autonomia, ir e
vir, brincar de uma coisa e depois de outra. Já sabe comer sozinho e beber água
no copo comum. Não dorme sem a mamadeira, mas adormece sozinho. Afirma
diariamente seus desejos e suas preferencias. Sabe dizer não, e justamente
hoje, indagou seu primeiro “por que?”. Está aprendendo a falar em primeira
pessoa, falar “isso é meu”. E também sinaliza quando a fralda está suja, sem
confundir uma coisa com a outra. Meu bebê está virando uma criança, bem
devagar, bem aos poucos, mas está. Ele ainda depende de mim pra coisas como
tomar banho, se vestir, e entrou numa fase de pesadelos, de ter medo de
barulhos repentinos (isso ele sempre teve, na
verdade).
E aí meu eu se divide em dois, de um lado
eu me emociono quando me dou conta desse amadurecimento, do desenvolvimento
dele nesse processo de se descobrir no mundo. Mesmo sabendo que nosso vínculo
estará sempre aí, e irá se atualizar e se transformar à medida que o tempo for
passando, bate a melancolia, a sensação de que cada dia mais ele será menos meu
e mais do mundo, mais para o mundo.
E aí dá aquela vontade maluca de sacar um
cordão umbilical e amarra-lo junto a mim novamente.
O sentimento é tão instintivo como era o
ato de levantar de madrugada para atende-lo, ou para acudir o pai quando esse
não conseguia acalmar o guri. Estar junto é uma necessidade, daquelas vitais,
tipo respirar. Despertamos na mesma hora, quando vou coloca-lo pra dormir,
adormeço também. Pois é, acho que estou sofrendo de ansiedade de separação às
avessas...
Mas num sentido positivo, ao reconhecer que se trata de um processo de separação mesmo, e que traz ansiedade. De reconhecer que a fase dele de sair da simbiose está chegando, e ele se interessa muito pelas coisas do mundo, a ponto de aceitar se separar de mim, ou até de não querer meu grude (tipo a mãe louca querendo dar ataque de beijo no filho que está entretido com uma brincadeira e ouve: “num qué ataki de bêdô”).
E que isso significa que a minha fase de
sair da simbiose também está chegando. Que sim, ainda vamos precisar muito um
do outro, para muitas coisas, porém cada dia que passa caminhamos para existir
mais como sujeitos (eu pela segunda, ou terceira vez, se contar os meus 2 anos)
e não como binômio. E isso, longe de afetar nossa parceria, só vai fortalecer, dentro
de um processo que começou no dia em que ele saiu de dentro de mim. Cada dia
maior, mas sempre com espaço garantido nesse colo de mãe que nunca terá fim.