quinta-feira, 31 de maio de 2012

Instruções da nave pai




Dizem que crianças são seres inofensivos. Bem, eu não diria o mesmo, porque há um ano atrás, mesmo antes mesmo de ver o seu rosto, você já tinha me deixado em pânico. (Pânico... aquilo que você sente quando acorda de madrugada e solta aquele grito de terror quando eu, e não a sua mãe, entra no quarto.)

Voltando... Há um ano atrás eu estava quase em pânico porque era o dia que você resolveu sair de dentro da sua mãe e movimentar um pouco as coisas por aqui. Você foi um carinha meio demorado, porque esperou mais ou menos 18 horas pra nascer desde o início dos primeiros sinais da sua vontade de vir aqui fora ver como eram as coisas. (Coisas... tudo aquilo que tem pendurado no seu berço e espalhado pelo chão da sala). Naquele dia, pensava muito como elas, as coisas, iriam ser depois que você saísse dali de dentro da nave mãe. Não tinha a mínima idéia de como tudo seria a partir dali, só sabia que ia ter um bebê (esse é você), depois de muito tempo e que não lembrava mais de como fazer para cuidar de um, apesar de ter gente afirmando que era igual andar de bicicleta. (Bicicleta... Um veículo que você tem que pedalar para que ele saia do lugar. Inicialmente é inofensivo quando tem rodinhas laterais para equilibrar, mas vai ter um momento que você vai decidir tirá-las; e aí o chão pode chegar bem perto).

Quando foi bem no fim da noite, você veio com tudo. Berrando alto e mobilizando a atenção de todo o prédio onde a gente mora. Pensando bem, acho que sua mãe chamou mais atenção que você. Mas isso depois você pergunta pra ela. Depois daquelas 18 horas, como um coelhinho que sai da cartola do mágico, pluft, você tava ali todo sujo e pronto pra dizer como tudo ia funcionar daqui pra frente. Nasceu e foi mamar (o que pode explicar a sua vontade de roubar tudo que a gente tenta colocar na boca), e depois foi tomar um banho quentinho de balde. Não Luca, ninguém achou que você era uma roupinha suja, mas disseram que era mais legal te dar banho no balde, e pela sua carinha, acho que até curtiu. Ficou lá tranquilão na água morninha enquanto eu te segurava e pensava se não dava pra dar uma esfregadinha pra te deixar mais limpo. Mas fui bravo e não esfreguei. (Papai sempre quer lavar as coisas e tem agonia de se sujar).

A partir daquele dia, parece que o tempo voou. Você mamou loucamente, aprendeu a ficar de bruços, a sentar, ficou em pé, nasceu dente e saiu andando. Mas como assim tão rápido? Eu tenho sérios problemas de lembrar das coisas, não pode ser tão rápido assim que não vou conseguir fixar tudo. Mas pra isso tem as fotos e as filmadoras. E dessas duas coisas eu entendo um pouco e não vou deixar nada passar em branco pra que depois a gente possa sentar com sua mãe, com a sua irmã, com a sua vó e com todo mundo e rever sua pequena historinha.

Nesse exato momento você está na escola brincando e aprendendo a fazer alguma baguncinha nova (sim, você já estuda desde os 8 meses. Não reclama não que sua irmã foi com 5). Achamos que era o melhor pra você porque a gente não curte muito a idéia de uma pessoa desconhecida ficar cuidando de você sozinha dentro de casa e ouvindo algum tipo de música que não seja o bom e velho Rock n' Roll. (ROCK N' ROLL... a única coisa imutável na vida. Nada pode abalar a nossa relação com ele. Uma vez dentro do sangue não sai nunca mais. Vão tentar te enganar falando que algumas bandas tocam isso, mas não acredite, por exemplo que Guns n' Roses toca rock de verdade. E você já bate cabeça e dá uns gritinhos, além de ser apaixonado pela guitarra).

E por falar em escola, no dia em que vamos fazer uma farrinha lá em casa pra você poder brincar com bolas, dançar e pular a sua irmã fará a prova do vestibular antes de encontrar com a gente. Vestibular é difícil de explicar e acho que ele não existirá mais quando você tiver na idade dela. Mas basicamente é quando você escolhe a sua profissão. Confesso que acho muito cedo pra definir o que você vai fazer pelo resto da vida, mas enfim. Isso é um papo pra depois. Agora temos é que torcer pra ela passar no vestibular e ficar feliz com a escolha dela. Voltando à farrinha, você não vai ter uma super festa de 1 ano, porque eu e sua mãe achamos que você não vai curtir toda aquela gente e toda a movimentação estressante de uma festa. (Festa... um lugar onde um bando de gente se junta pra tentar falar mais alto que a música e conversar todos ao mesmo tempo, em função de um motivo comum, como um aniversário). Na verdade, eu também não vou gostar porque sou meio bicho do mato. Então, vamos fazer uma mini festa só para encher balão dentro do apartamento mesmo e depois vamos visitar as pessoas pra você levar um presentinho pra cada um, porque é claro que tá todo mundo morrendo de te apertar, mas como nossa casa é pequena, não cabe todos então primeiro a gente faz a farrinha com a mamãe e o papai e depois vamos pra rua, ok?

Hoje você já é um menino que sabe o que quer e principalmente o que não quer. Adora comer tudo e andar pra lá e prá cá. Ainda caindo muito de bunda, claro, mas gosta. E nesse um ano, posso dizer que me apaixonei loucamente por você, assim como pela sua irmã. E também como ela, provavelmente serei apaixonado por você assim a vida toda. Depois desse primeiro ano com você por perto, só espero ter cada vez mais tempo pra estar junto de vocês três para curtir tudo o que podemos fazer juntos. E pode ter certeza que vou fazer de tudo, para uma simples coisa acontecer.... que todos sejam felizes para sempre!

Um beijo e uma lambida (sim, eu te lambo frequentemente) diretamente da nave Pai.





Ser um e ser dois


Esse mês de maio eu me peguei reflexiva, provocada a pensar nos acontecimentos do último ano. Em verdade, eu já andava me sentindo dessa forma mais um tempo antes. Refletindo sobre meu lugar no mundo depois que me tornei mãe, desde a forma de me vestir, de andar, falar, até como estou cuidando e criando meu pequeno, ainda tão pequeno.

Mas nesse mês, talvez pela proximidade de Luca completar um ano, tudo foi ficando mais forte e eu fui aos poucos, revivendo todo o meu parto. E passei por vários sentimentos, desde me sentir vencedora por ter conseguido parir em casa, sem intervenções, num sistema onde pessoas com plano de saúde – meu caso – tem 90% de chance de acabarem numa cirurgia desnecessária para ter seu filho nos braços, até uma pessoa frágil e vulnerável, pois em determinado momento do parto, eu achei sinceramente que não conseguiria mais avançar e dar à luz Luca. E fico me lembrando da tremedeira, dos dentes batendo, o corpo todo tremendo de forma involuntária e incontrolável, o choro, e um momento em que eu quase desmaiei, não fosse a parteira me chamar baixinho: “Helô?”.

E aí eu despertei, entendi que precisava terminar logo aquilo. Que Luca queria nascer e eu também queria que ele viesse, apesar de todo o medo que eu estava sentindo. Sim, era medo, muito medo. Sentia muita dor, sentia um desconforto físico muito grande, mas sobretudo um desconforto emocional, porque não estava me sentindo no controle da situação. E quando eu falo em controle, quero dizer da racionalidade da coisa. Tudo bem, eu estava na partolândia, entregue, mas minha mente oscilava entre se deixar levar e tentar assumir o controle de algo que não lhe cabia. Porque isso faz parte da minha natureza, e me deparar com esse impasse entre o racional e o animal, justo naquele momento, foi assustador, porque colocava em xeque a minha confiança em terminar aquele processo da forma como eu desejava. Mas o mais impressionante é que essas ondas mentais aconteciam em sintonia inversa com as ondas das contrações. E era justamente nas contrações que o medo desaparecia, a fêmea tomava lugar e a razão perdia sua influência,  ficando só a vontade de fazer força e trazer meu bebê ao mundo.

E aos poucos, ao longo desse mês, esses momentos do parto, que eu não cheguei a relatar, foram vindo na minha mente, como um flashback avassalador. E, se depois do parto, eu secretamente me senti muito fraca por todas essas coisas que eu narrei agora, hoje entendo que elas tinham uma razão de existir. Eu precisava desse medo para entender o tamanho do desafio de ser mãe. A responsabilidade por um ser totalmente dependente de você é, sim, assustadora, mas até o dia do parto, eu não tinha pensado sobre isso. Essa noção me invadiu, justo naquela hora, e quase me paralisa. Me lembro de Paloma ter me perguntado se eu estava com medo, e me perguntar de quê: “de ser mãe”. Vejo hoje – e já via antes – o quanto não tinha noção do que me esperava e o quanto embarquei nessa viagem de forma imatura, impensada, não planejada.

E a dor, da qual tantas tem medo a ponto de agendar uma cirurgia para evitar sentir, é constitutiva desse processo, no melhor estilo “no pain, no gain”. Sim, para todo esforço, há que haver uma recompensa. E a maior de todas, nesse caso, um bebezinho lindo, incrível, nascido de um ato de amor, muitas divisões celulares e uma maratona física, cujo clímax é indescritível.

E, outro dia, lendo sobre a natureza sexual do parto e a dor como parte do processo de transição para a maternidade, pude revisitar o paradoxo que narrei em meu relato de parto, há quase um ano atrás, e entender melhor como se constituiu o momento de passagem da filha para a mãe, da menina para a mulher, da indivídua para o binômio mãebebê, do qual nunca mais conseguirei me afastar. Entendi que o parto simboliza o nascimento não só do bebê, mas da mãe, que  tal como ele, aprenderá a se situar no mundo nessa nova condição.

E senti muita necessidade de relatar novamente essa experiência, tão significativa na minha existência, ao ponto de precisar de um ano inteiro para compreende-la na sua totalidade... pelo menos até aqui, pois talvez a experiência na maternidade ainda me mostre outros desdobramentos daquele fatídico dia, indelével para toda a minha existência.

Depois que Luca nasceu, ficou a pergunta: “mas eu realmente queria ser mãe?” E estaria mentindo se dissesse que não penso nisso ainda hoje em dia. Penso sim, porque abrir mão de certas coisas ainda é difícil para mim, embora hoje elas me pareçam muito mais relativas do que há um ano ou dois. Mas a diferença para o ano que passou, é que hoje eu tenho certeza que não poderia passar pela vida sem experimentar, pelo menos uma vez, o que é engravidar, gestar, parir e cuidar. O que é acompanhar a existência de um ser humano desde o seu primeiro dia, e ter dele as lembranças que não tenho de mim mesma. O que é compreender como é a vida sem a razão cognitiva, sem a linguagem articulada, sem a desenvoltura física.

Acompanhar cada dia dessas conquistas, as dificuldades, o esforço, a alegria, a tristeza, o aprendizado sobre a vida, sobre a relação com as pessoas, com as coisas, com o mundo. Depois de um ano de vida, tudo isso já está constituído em Luca, pelo menos nas fundações. Agora ele, que já anda e possui mecanismos mínimos para expressar o que quer – e sobretudo o que não quer – poderá começar a edificar sua existência, assumindo preferências, demonstrando seu temperamento e aos poucos fazendo suas escolhas.

Hoje, não consigo entender a vida sem ele por perto. Não consigo entender meu lugar no mundo sem ser a mãe dele. Sou, sim, muitas outras coisas. Mas também estou aprendendo a ser mãe, com todos os percalços, dificuldades, medos, ansiedades que isso pode me gerar. Mas é um novo caminho sendo trilhado, indissociável da minha própria individualidade. Ser um e ser dois ao mesmo tempo. Como pode?

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Blogagem coletiva: criação com apego


No universo da blogosfera materna, hoje foi proposta uma blogagem coletiva sobre o tema da “criação com apego”. Já tinha visto outras propostas de escrita coletiva sobre temas afetos a mulheres com filhos ou em via de tê-los, mas nenhum tinha me empolgado a ponto de rascunhar algumas linhas... e olha que mesmo depois de praticamente um ano do meu parto, estou sempre lendo relatos e histórias afins, porque essa foi uma experiência tão marcante, que até  hoje não consegui me dar conta da totalidade do seu significado para mim. Então vou me nutrindo de outras histórias para compreender melhor a minha própria. Porque é assim que a vida em sociedade acontece, não é?

Mas o lance da forma de criação dos filhos me mobilizou, porque se trata de um assunto que passou a me revirar as entranhas cada vez que tomo conhecimento de exemplos de abuso e descaso com esses seres ainda iniciantes nesse mundão afora, em mostras patentes da ignorância alheia em respeitar um bebê como ser humano que ele é, que acaba subjugado pela força e pelo autoritarismo arrogante. E não precisa nem chegar ao extremo dos casos de abuso e outras formas de violência sexual, ou do espancamento e outras formas de violência física e moral. Às vezes percebo uma ansiedade que eu considero desnecessária, em fazer com que os filhos sejam independentes quando ainda são bebês, custe o que custar em termos emocionais, para ambas as partes.

Considero isso desnecessário e contraproducente, porque entendo que a primeira coisa que deve ser ensinada aos filhos não é que eles precisam aprender a se virar sozinhos, mas sim que eles sempre poderão contar com aqueles que lhe deram a vida. Além disso, quando eles são bebês, nos pedem muito pouco. Alguém que pegue no colo, dê carinho, mantenha limpo e alimentado e faça dormir. Se nem isso temos disposição pra dar, porque escolher ter filhos? Sim, porque minha geração já sabe que não precisa viver a maternidade como a realização máxima de uma mulher. Existem outras coisas que podem se prestar a isso. Realização máxima com outro ser humano é algo altamente temerário, a meu ver, porque não podemos brincar com a vida e os sentimentos das pessoas. Um bebê não é um tamagotchi nem um jogo de videogame cujo objetivo é passar de fase. É um ser humano, no minuto em que nasce, ainda que sua desenvoltura física e tamanho sejam tão diferentes das nossas.

Então, na minha caminhada como grávida e depois como mãe, algumas questões simplesmente tinham que ser de determinada forma se eu tinha escolhido ter um filho. Sim, escolhido, porque apesar de Luca ter sido concebido antes do que eu e o pai dele planejávamos, e o aborto não ser permitido no Brasil, eu jamais traria ao mundo uma vida que não me sentisse apta a cuidar...

Bom, dito isso, nunca me passou pela cabeça, por exemplo, ter uma babá. Eu tirei minha licença maternidade com todos os dias a que tinha direito, emendei com férias e quando retornei ao trabalho, ele foi para uma creche, apenas durante a minha jornada laboral. Noites e finais de semana fica sob minha responsabilidade e do pai dele. Andamos muito de sling, de carrinho, de carro, fazemos várias coisas juntos, de compras no mercado a passeios no parque, curtindo intensamente cada dia e cada segundo desse tempo juntos, sem pressa, sem angústia com a volta ao trabalho, encarando tudo como um processo, uma vida em comum que só está começando.

E uma coisa que aprendi, era que desde cedo devia respeitar o ritmo dele pra tudo. Ouvi algumas vezes que Luca tinha ciúme dos brinquedos e que não se socializava com outras pessoas – leia-se, não ia no colo de todo mundo. E sempre dito como um problema a ser solucionado por mim, a mãe dele. Como se o temperamento inato dele não tivesse nada a ver com isso e tivesse um jeito certo de educá-lo, para fazer o que outras pessoas esperam dele. Bem, não levei nada disso a sério e hoje em dia ele vai muito bem, obrigado, com as pessoas com quem convive na creche. Se ele vai no colo de qualquer um? Não, não vai. E quem disse que eu espero isso dele? Pelo contrário, acho que esse mecanismo de defesa é super importante pra quando ele estiver maior, de não dar confiança pra qualquer um que se aproximar – muitas vezes longe dos meus olhos – deixando meu coração tranqüilo de que saberá se cuidar.

E nessa coisa do ritmo dele, nunca me atraíram também as técnicas de treinamento do sono. Deixar chorar nunca foi uma opção, mas quando o cansaço bateu forte nas minhas costas, eu fui atrás de alguma literatura que se aproximasse daquilo que eu entendia como adequado na criação dele e encontrei. O livro não fugia ao padrão esquemático de rotinas rígidas e eu demorei muitos meses até resolver aplicar alguma coisa que estava escrito ali. Foi só quando realmente bateu o desespero – porque eu sabia que minhas decisões de estar bem perto, amamentando e respeitando exclusivamente o tempo dele tinham um preço, que era de tornar todos os processos muito mais lentos e graduais.

Mas quando eu voltei a trabalhar e passei a ter uma rotina mais fixa, o sono interrompido dele passou a me desorganizar mais do que eu podia suportar. Foi só aí que achei que era o momento de tomar alguma providência e o que fiz, de forma muito, mas muito lenta, foi começar a desvincular o peito do sono, e a estimular meu filho a adormecer de outras formas. Que formas? Aquelas que ele sinalizasse pra mim que lhe agradavam mais. A hora de dormir passou a ser mais demorada, mas os efeitos começaram a se fazer sentir: mais horas seguidas de sono, aceitação em ir pro berço acordado, menos choro na hora de dormir e capacidade de adormecer sozinho quando acorda no meio da madrugada. E esse é um processo que ainda não se completou, e que eu acredito que ainda vai demorar mais um pouco até ser finalizado.

A amamentação, na minha cabeça, sempre me pareceu uma questão pura e simples de preparar o seio para receber aquela boquinha e dar o peito sempre que o bebê solicitasse. Eu nunca imaginei, porém, que a força daquela boquinha pudesse ser tanta e que ele pudesse solicitar mais ainda... Não foram poucas as vezes que me questionei se era capaz de levar isso adiante por 6 meses com exclusividade. Mas claro estava para mim que eu não embarcaria na primeira conversa de pediatra que me dissesse que o ganho de peso não estava satisfatório e que seria necessário entrar com fórmula. Dentro de mim gritava uma voz que me dizia que, tal como fui capaz de parir, seria capaz de alimentar meu filho pelo tempo que fosse necessário. E, passado o primeiro mês, quando contei com muito apoio por parte do meu companheiro, marido e pai de Luca, tudo se tornou muito mais natural e fácil de levar. Foi quase como aprender a dirigir: no começo você tem que pensar em cada movimento e tudo que acontece à sua volta te deixa meio alarmada, depois você condiciona aquilo ao seu cotidiano e a coisa flui de um jeito que é como se você fizesse aquilo... desde que nasceu.

E nunca percebi esse momento como uma prisão, um impedimento para fazer outras coisas. Não pode fumar? Não. Não pode beber? Não muito. Não pode sair à noite? Não, não rola. Mas ele não vai mamar até os 18 anos, então não tem porque ficar ansiosa. Além disso, eu aproveitei muito minha juventude e minha solteirice, por isso não vejo esses impedimentos como um tempo perdido. Vejo como um momento radicalmente diferente na minha vida, com outras escolhas se impondo no cotidiano, que logo vão mudar, porque Luca vai crescer e vai passar a afirmar outras necessidades – e outras preferências. Por isso nunca tive pressa em diminuir mamadas, pensar em desmame, introduzir alimentação... Tinha certeza que ele sinalizaria para mim o momento em que estivesse pronto para isso. Como sinalizou e continua sinalizando.

E aí, nas portas dele completar um ano de vida e eu um ano de mãe, vem à tona essa história da criação com apego, que eu achei que poderia compartilhar com quem me lê como eu pratico no dia a dia, e aí está. Pra mim, é algo que não trata de um método ou técnica, mas sim de uma filosofia de cuidado, na qual não existem esquemas rígidos, porque o ser humano não se constitui só com rotinas. Trata-se de um conjunto de entendimentos sobre como criar seres humanos saudáveis emocionalmente e aptos para uma vida em sociedade humanizada e respeitosa. E, para isso, basta praticar esses valores, com disponibilidade emocional para estar próximo dos filhos, sem intermediários, o maior tempo possível, dando a eles todo o carinho e atenção que eles precisam e merecem, sem medir a quantidade e a qualidade, sem se preocupar se vai mimar ou não. Ensinar a eles valores como confiança e amor ao próximo, essencial para uma vida em sociedade mais humanizada. Respeitando sua condição humana, presente desde o primeiro minuto de nascimento.