segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mudando de órbita

Quem me conhece sabe que me expresso bem pelo universo das letras... gosto de ler, escrever, sistematizar, elaborar, revisar... tudo que mexa com palavras, é minha praia. Por isso fui pega de surpresa quando me vi com dificuldade de escrever sobre a gravidez. Esse foi o primeiro escrito sobre o assunto, pouco mais de um mês depois de descobrir que tinha um neném se formando dentro de mim e que acabou perdido e encontrado apenas hoje... Coisas de neo-grávida, mas que resolvi dividir aqui, já que esse blog, de um jeito ou de outro, é pra isso mesmo.


“Já tem dias que estou ensaiando escrever, mas não o faço... minha vida está começando uma mudança gigantesca, e eu nem consigo de dar conta por completo disso. Ter um filho... me anima a idéia, demais, esse era um desejo antigo. Ao mesmo tempo, são muitas as questões que isso acarretou e irá acarretar daqui por diante... gestar, parir, cuidar, amar, sustentar, apoiar, escutar, tantos verbos que exigem uma doação tremenda da minha parte a partir de agora...

Começo a me perceber pequena diante da enormidade que isso significa... deixando de girar ao meu redor apenas... preparando-me para mudar de órbita.

Um engano achar que já não mudei. Posso apenas não ter percebido, em parte porque ainda estou envolvida com minhas questões individuais... como será a vida daqui pra frente? Como será a relação com o Edu, como será o trabalho, como ficará meu corpo com barriga e depois da barriga, como ficará minha mente... meu parto será normal, vou suportar a dor, terei leite, vou segurar as pressões... as perguntas parecem não ter fim.

Hoje, quando me vi com a disposição baixando, com dificuldade de me concentrar, de achar uma posição confortável, me incomodei com o que está por vir. E senti pela primeira vez a ambigüidade de que tanto se fala a respeito das neo-grávidas. De estar feliz e ao mesmo tempo não querer abrir mão da vida construída até aqui, tão ajeitadinha, mesmo que seja na sua própria bagunça... Mas a coisa foi fluindo, e ficando melhor, a cada dia... a relação com o Edu se fortalecendo, a ausência de enjôos, o sono se restabelecendo sem alopatia nenhuma, a animação pra cuidar da saúde... o abandono do cigarro, dos maus hábitos alimentares, e a consciência de que já não faço isso mais apenas por mim, por minha saúde ou por minha beleza... mas porque alguém mais me mobiliza e me movimenta nesse sentido. Já não sou mais dona de mim.

Talvez seja isso mesmo o que me espera... experimentar sentimentos de plenitude e de falta, um atrás do outro... mas que momento da vida não foi assim? Talvez agora seja até mais fácil de vivenciar a oscilação. Ela tem uma razão de ser tão maior que ela mesma, que já não me incomoda mais. Vou simplesmente me concentrar no que está por vir e aceitar as coisas como elas tem que ser. Ok, tendo que lidar com todos aqueles ‘como será’, lá do começo, além da insegurança de estar ou não um filho perfeito... domar a curiosidade de saber como ele será antes dele estar pronto... No fundo, não me importa se menino ou menina, se gêmeos (calma, amor), me importa que venha perfeito, saudável, e que eu não seja responsável por lhe causar nenhum mal antes de saírem de dentro de mim...

Ainda tenho muitas questões a trabalhar e a viver, e me parece que é tudo muito rápido, pois a gravidez só dura 9 meses (tá bom, 10...). Quantos anos eu não passei pra entender meus grilos? Como dar conta desses que chegam em tão pouco tempo? Fico aliviada por finalmente estar começando a escrever as perguntas, mas onde isso vai parar? Onde estarão as respostas?”

Um comentário:

  1. Amiga querida, não sei se meu comentário vai aliviar alguma coisa, mas ser mãe, além de maravilhoso, vai gerar ainda muitas outras questões ao longo da jornada, e essas questões não são respondidas, geram novas perguntas... é um questionamento intenso.... mas um aprendizado incrível...
    já tenho 10 anos nessa estrada e estou sempre me perguntando alguma coisa... rsrs
    beijos e aproveite cada segundo da sua gravidez!!!

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