No universo da blogosfera materna, hoje foi proposta uma
blogagem coletiva sobre o tema da “criação com apego”. Já tinha visto outras
propostas de escrita coletiva sobre temas afetos a mulheres com filhos ou em
via de tê-los, mas nenhum tinha me empolgado a ponto de rascunhar algumas
linhas... e olha que mesmo depois de praticamente um ano do meu parto, estou
sempre lendo relatos e histórias afins, porque essa foi uma experiência tão
marcante, que até hoje não consegui me
dar conta da totalidade do seu significado para mim. Então vou me nutrindo de
outras histórias para compreender melhor a minha própria. Porque é assim que a
vida em sociedade acontece, não é?
Mas o lance da forma de criação dos filhos me mobilizou,
porque se trata de um assunto que passou a me revirar as entranhas cada vez que
tomo conhecimento de exemplos de abuso e descaso com esses seres ainda
iniciantes nesse mundão afora, em mostras patentes da ignorância alheia em
respeitar um bebê como ser humano que ele é, que acaba subjugado pela força e
pelo autoritarismo arrogante. E não precisa nem chegar ao extremo dos casos de
abuso e outras formas de violência sexual, ou do espancamento e outras formas
de violência física e moral. Às vezes percebo uma ansiedade que eu considero
desnecessária, em fazer com que os filhos sejam independentes quando ainda são
bebês, custe o que custar em termos emocionais, para ambas as partes.
Considero isso desnecessário e contraproducente, porque
entendo que a primeira coisa que deve ser ensinada aos filhos não é que eles
precisam aprender a se virar sozinhos, mas sim que eles sempre poderão contar
com aqueles que lhe deram a vida. Além disso, quando eles são bebês, nos pedem muito
pouco. Alguém que pegue no colo, dê carinho, mantenha limpo e alimentado e faça
dormir. Se nem isso temos disposição pra dar, porque escolher ter filhos? Sim,
porque minha geração já sabe que não precisa viver a maternidade como a
realização máxima de uma mulher. Existem outras coisas que podem se prestar a
isso. Realização máxima com outro ser humano é algo altamente temerário, a meu
ver, porque não podemos brincar com a vida e os sentimentos das pessoas. Um
bebê não é um tamagotchi nem um jogo de videogame cujo objetivo é passar de
fase. É um ser humano, no minuto em que nasce, ainda que sua desenvoltura
física e tamanho sejam tão diferentes das nossas.
Então, na minha caminhada como grávida e depois como mãe,
algumas questões simplesmente tinham que ser de determinada forma se eu tinha
escolhido ter um filho. Sim, escolhido, porque apesar de Luca ter sido
concebido antes do que eu e o pai dele planejávamos, e o aborto não ser
permitido no Brasil, eu jamais traria ao mundo uma vida que não me sentisse
apta a cuidar...
Bom, dito isso, nunca me passou pela cabeça, por exemplo,
ter uma babá. Eu tirei minha licença maternidade com todos os dias a que tinha
direito, emendei com férias e quando retornei ao trabalho, ele foi para uma
creche, apenas durante a minha jornada laboral. Noites e finais de semana fica
sob minha responsabilidade e do pai dele. Andamos muito de sling, de carrinho,
de carro, fazemos várias coisas juntos, de compras no mercado a passeios no
parque, curtindo intensamente cada dia e cada segundo desse tempo juntos, sem
pressa, sem angústia com a volta ao trabalho, encarando tudo como um processo,
uma vida em comum que só está começando.
E uma coisa que aprendi, era que desde cedo devia respeitar
o ritmo dele pra tudo. Ouvi algumas vezes que Luca tinha ciúme dos brinquedos e
que não se socializava com outras pessoas – leia-se, não ia no colo de todo
mundo. E sempre dito como um problema a ser solucionado por mim, a mãe dele.
Como se o temperamento inato dele não tivesse nada a ver com isso e tivesse um
jeito certo de educá-lo, para fazer o que outras pessoas esperam dele. Bem, não
levei nada disso a sério e hoje em dia ele vai muito bem, obrigado, com as
pessoas com quem convive na creche. Se ele vai no colo de qualquer um? Não, não
vai. E quem disse que eu espero isso dele? Pelo contrário, acho que esse
mecanismo de defesa é super importante pra quando ele estiver maior, de não dar
confiança pra qualquer um que se aproximar – muitas vezes longe dos meus olhos
– deixando meu coração tranqüilo de que saberá se cuidar.
E nessa coisa do ritmo dele, nunca me atraíram também as técnicas
de treinamento do sono. Deixar chorar nunca foi uma opção, mas quando o cansaço
bateu forte nas minhas costas, eu fui atrás de alguma literatura que se
aproximasse daquilo que eu entendia como adequado na criação dele e encontrei.
O livro não fugia ao padrão esquemático de rotinas rígidas e eu demorei muitos
meses até resolver aplicar alguma coisa que estava escrito ali. Foi só quando
realmente bateu o desespero – porque eu sabia que minhas decisões de estar bem
perto, amamentando e respeitando exclusivamente o tempo dele tinham um preço,
que era de tornar todos os processos muito mais lentos e graduais.
Mas quando eu voltei a trabalhar e passei a ter uma rotina
mais fixa, o sono interrompido dele passou a me desorganizar mais do que eu
podia suportar. Foi só aí que achei que era o momento de tomar alguma
providência e o que fiz, de forma muito, mas muito lenta, foi começar a
desvincular o peito do sono, e a estimular meu filho a adormecer de outras
formas. Que formas? Aquelas que ele sinalizasse pra mim que lhe agradavam mais.
A hora de dormir passou a ser mais demorada, mas os efeitos começaram a se
fazer sentir: mais horas seguidas de sono, aceitação em ir pro berço acordado,
menos choro na hora de dormir e capacidade de adormecer sozinho quando acorda
no meio da madrugada. E esse é um processo que ainda não se completou, e que eu
acredito que ainda vai demorar mais um pouco até ser finalizado.
A amamentação, na minha cabeça, sempre me pareceu uma
questão pura e simples de preparar o seio para receber aquela boquinha e dar o
peito sempre que o bebê solicitasse. Eu nunca imaginei, porém, que a força
daquela boquinha pudesse ser tanta e que ele pudesse solicitar mais ainda...
Não foram poucas as vezes que me questionei se era capaz de levar isso adiante
por 6 meses com exclusividade. Mas claro estava para mim que eu não embarcaria
na primeira conversa de pediatra que me dissesse que o ganho de peso não estava
satisfatório e que seria necessário entrar com fórmula. Dentro de mim gritava
uma voz que me dizia que, tal como fui capaz de parir, seria capaz de alimentar
meu filho pelo tempo que fosse necessário. E, passado o primeiro mês, quando
contei com muito apoio por parte do meu companheiro, marido e pai de Luca, tudo
se tornou muito mais natural e fácil de levar. Foi quase como aprender a
dirigir: no começo você tem que pensar em cada movimento e tudo que acontece à
sua volta te deixa meio alarmada, depois você condiciona aquilo ao seu
cotidiano e a coisa flui de um jeito que é como se você fizesse aquilo... desde
que nasceu.
E nunca percebi esse momento como uma prisão, um impedimento
para fazer outras coisas. Não pode fumar? Não. Não pode beber? Não muito. Não
pode sair à noite? Não, não rola. Mas ele não vai mamar até os 18 anos, então
não tem porque ficar ansiosa. Além disso, eu aproveitei muito minha juventude e
minha solteirice, por isso não vejo esses impedimentos como um tempo perdido.
Vejo como um momento radicalmente diferente na minha vida, com outras escolhas
se impondo no cotidiano, que logo vão mudar, porque Luca vai crescer e vai
passar a afirmar outras necessidades – e outras preferências. Por isso nunca
tive pressa em diminuir mamadas, pensar em desmame, introduzir alimentação...
Tinha certeza que ele sinalizaria para mim o momento em que estivesse pronto
para isso. Como sinalizou e continua sinalizando.
E aí, nas portas dele completar um ano de vida e eu um ano
de mãe, vem à tona essa história da criação com apego, que eu achei que poderia
compartilhar com quem me lê como eu pratico no dia a dia, e aí está. Pra mim, é
algo que não trata de um método ou técnica, mas sim de uma filosofia de
cuidado, na qual não existem esquemas rígidos, porque o ser humano não se
constitui só com rotinas. Trata-se de um conjunto de entendimentos sobre como
criar seres humanos saudáveis emocionalmente e aptos para uma vida em sociedade
humanizada e respeitosa. E, para isso, basta praticar esses valores, com disponibilidade
emocional para estar próximo dos filhos, sem intermediários, o maior tempo
possível, dando a eles todo o carinho e atenção que eles precisam e merecem,
sem medir a quantidade e a qualidade, sem se preocupar se vai mimar ou não.
Ensinar a eles valores como confiança e amor ao próximo, essencial para uma
vida em sociedade mais humanizada. Respeitando sua condição humana, presente
desde o primeiro minuto de nascimento.
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