sexta-feira, 1 de julho de 2011

Uma feliz parceria

Quem imagina que, na maternidade, a dor termina com o parto, engana-se redondamente. Sim, a amamentação é um exercício de perserverança, determinação e paciência. E, sobretudo, de resistência à dor. Logo após o nascimento, tudo o que eu mais queria era alimentar meu filho, tê-lo em meus braços e permitir, com o alimento produzido dentro do meu próprio corpo, que ele possa crescer e se desenvolver. Mas, na primeira pegada, senti que as coisas não seriam tão fáceis assim. Dizem que meninos sugam com mais força que as meninas, mas acho que num primeiro momento não há mulher que não sinta o choque do ‘apertão’ numa área tão sensível do corpo. Ali, começamos a ser testadas nesses quesitos que citei no começo do parágrafo.

No meu caso, eu tinha 50%  das coisas resolvidas: um dos meus peitos tinha o bico totalmente formado, enquanto o outro teria que ser formado por ele, ao longo das primeiras mamadas. Esse processo foi bem difícil: nos primeiros dias houve um certo sangramento, e o processo de cicatrização demorou pelo menos uma semana. A dor é inimaginável. É totalmente diferente do parto, e incomparável, pois no caso da amamentação, você sabe que ficará nessa por pelo menos seis meses... e eu só ficava imaginando em que momento a dor iria passar...

Confesso que, diante desse cenário, meu instinto materno não veio junto com Luca; ele foi se constituindo aos poucos, pois, no começo, cada vez que ele ele pedia o peito, eu ficava bem angustiada com a idéia de sentir dor mais uma vez. Desejava que ele se saciasse logo e dormisse – sim, o peito é um poderoso sonífero, e nesse primeiro mês, conto nos dedos as vezes que foi Edu quem conseguiu fazê-lo dormir...

Evidente que a questão do instinto materno não tinha a ver apenas com a amamentação; o turbilhão de emoções pelo qual passamos após dar à luz, juntamente com as demandas contínuas de nosso bebê, nos põe à prova a todo instante. Não é simples se deparar com uma vida totalmente dependente da sua, que sente o que você sente, que capta suas emoções e sua energia, agindo de acordo com elas. E não é simples perceber que fazemos a mesma coisa. A ligação é, de fato, muito intensa, e a amamentação, além de servir à nutrição e ao desenvolvimento dessa nova vida, é um símbolo da força dessa conexão.

Nos dias em que ele tomou as primeiras vacinas e fez o teste do pezinho, ainda na primeira semana, minha perseverança continuou sendo posta à prova: as reações causadas por essas intervenções fizeram com que Luca ficasse muito incomodado e, como reação, solicitasse muito mais o peito. Ainda com feridas nos mamilos, achei que não fosse aguentar o tranco muito mais tempo. Além disso, não é muito animador ter que encarar outras restrições, como evitar alimentos com cafeína e bebidas alcóolicas e caprichar nos nutrientes, retardando a volta ao peso original; as roupas que fatalmente se sujam de leite gorfado assim que v. sai do banho e a necessidade de ter peças adequadas para amamentar, me impedindo de ter logo meu guarda roupa pré-gravidez de volta...

Mas tudo isso acaba sendo um mero detalhe, pois os dias passam tão rápido, as feridas cicatrizam e o ato de amamentar meu filho, acalentá-lo e fazê-lo dormir tem se tornado mais e mais prazeiroso, a ponto de me pegar desejando que ele acorde logo para vir para os meus braços. Ainda sinto alguma dor, que estou investigando a causa, sendo uma das hipóteses a pega inadequada (ainda que eficaz) ou fungo (coisa muito comum no pós-parto)... Mas, ao ver que ele engordou mais de 1 kg em apenas um mês, só posso ficar feliz porque meu leite estar sendo tão bom pra ele. E não questiono, de forma alguma, a decisão de amamentá-lo exclusivamente nos próximos 5 meses e estender isso por, pelo menos, até ele completar 1 ano – se assim ele quiser.

Sim, é cansativo levantar de madrugada para alimentá-lo – rotina que inclui também uma troca de fraldas – e esperá-lo adormecer de novo. E, nesse começo, sequer faço esforço para criar uma rotina para ele. Ele é quem me diz a rotina que eu devo seguir. Resultado é um cansaço extremo, que nem sempre consigo amenizar dormindo nas horas que ele dorme. Seja porque tenho que resolver outras coisas, seja porque o sono não vem. Tenho me esforçado; permaneço na cama mesmo sem dormir, só relaxando o corpo, esticando as pernas, a coluna, para poder aguentar a madrugada que me espera.

Eu, que sempre gostei de um lugar confortável para dormir, hoje me pego cochilando na poltrona que fica no quarto dele durante essas mamadas. Porém sei que o meu relaxamento, a ponto de adormecer, passa para ele não  como indiferença, mas como entrega total a um processo que é conjunto. Uma parceria feliz que estou desenvolvendo com meu filho e que, espero, seja a primeira de muitas. E é muito gratificante olhar para ele e, a cada instante, descobrir que algo nele está mudando; seja porque está crescendo, porque está mais alerta, porque suas mãozinhas já fazem movimentos mais conscientes junto ao meu corpo. E, apesar de saber que ele ainda é muito pequeno para dar sorrisos conscientes, gosto de pensar que a risadinha que ele abre após largar o peito é um reflexo das sensações de satisfação dele, ao se sentir amado e bem nutrido...

Nenhum comentário:

Postar um comentário