domingo, 3 de julho de 2011

Quem não chora não mama?

Até que Luca viesse ao mundo, eu nunca entendi essa história dos tipos de choro do bebê. Confesso que tinha dificuldade em concordar que, sendo essa a única forma de comunicação deles, desenvolviam uma entonação para cada queixa ou demanda que apresentassem... Mas sempre pensei também, por outro lado, que minha ignorância se devia ao fato de ainda não ter vivido essa experiência concreta. Que quando chegasse a minha hora, eu saberia.

Bem, minha hora chegou e eu continuei sem entender direito essa história dos tipos de choro. Li algumas coisas a respeito, que inclusive detalhavam algumas diferenças e fiquei observando Luca para ver se identificava alguma delas... não, nada. Talvez porque ele seja um neném muito tranquilo e chore muito pouco eu tenha tido – e ainda tenho – dificuldade de diferenciar as coisas.

Assim, vira e mexe eu levanto no meio da noite, achando que ele está acordado, querendo mamar, quando ele só está gemendo, provavelmente tendo algum sonho que nunca se lembrará... Mesmo se me guio pelo relógio, pois já dá pra saber mais ou menos os intervalos de sono e fome dele, ainda ficamos, eu e Edu, sujeitos a erros...

Bem, isso acontece também porque eu adotei como princípio não esperar meu filho se esvair em lágrimas para ir atendê-lo. Se tem uma coisa que nunca fez sentido pra mim é deixar um bebê chorando para não ‘mimá-lo’, não deixá-lo ‘manhoso’.

Depois que engravidei, e que passei a pesquisar diversas coisas relativas ao choro e à famosa manha, é que me convenci que deixar um bebê chorar loucamente só faz com que ele... chore ainda mais. Sim, pois, em primeiro lugar, nascemos com um sistema nervoso muito imaturo e, até os 3 meses, somos incapazes de manipular quem quer que seja. Não há consciencia desenvolvida o suficiente para tal. Depois disso, logo ele perceberá que quanto mais alto chorar, mais cedo ganha o que quer. E aí vira um cavalo de batalha entre pais e filhos que, sinceramente, não vejo quem possa sair beneficiado...

Assim, tenho me dedicado a perceber seus sinais antes que o choro venha. E vamos combinar que um bebê não tem desejos muito elaborados ou extravagantes: ele gosta de mamar, ficar sequinho e dormir. E não é dificil identificar nenhuma dessas coisas quando elas chegam. Por isso que quem já conheceu Luca, o acha um bebê mais que tranquilo.

É claro que tem dias que a gente acaba chegando meio tarde e aí o berreiro se forma... Mas dura pouco, felizmente. Agora, já passei alguns sufocos com ele nesse comecinho da nossa relação, em que não conseguia entender os seus desejos. E isso se refletiu na dificuldade de dormir, choro fácil e constante, necessidade de sucção incontrolável... Nada que se assemelhasse aos relatos que ouço das famosas cólicas (embora eu tenha lido coisas muito diferentes entre si a respeito delas, desde culturas que não conhecem o significado dessa palavra, até a medicina ocidental, que diverge nas causas e sintomas desse choro prolongado e inconsolável...), mas que foram suficientes para, junto com a avalanche de hormônios do puerpério, me deixar bem desestabilizada.

E aí, quando o instinto me deixou na mão, recorri ao intelecto e fui pesquisar. Uma das descobertas, ainda nos primeiros dias após o parto, foi a tal teoria da ‘exterogestação’, segundo a qual o bebê, depois que nasce, não assimila imediatamente que está fora da barriga da mãe. Então, além de achar que ele e ela ainda são uma coisa só, o bebê busca também as mesmas condições que tinha dentro do útero: um lugar quentinho, apertado e escurinho.

Laura Gutman, terapeuta argentina especializada em tratar mães de recem nascidos, afirma que um bebê precisa de apenas 3 coisas. Alimento é a primeira delas. A segunda, comunicação; sim, é preciso conversar com seu filho, explicar a ele o que está  fazendo com ele, o que acontece no entorno, quem são as visitas que chegam, onde vão passear... ele não processa nada disso em forma de linguagem, mas das sensações passadas pela mãe e pelo pai, e isso o tranquiliza, pois ele já ouvia essas vozes quando estava no útero. E, a última, contato físico... o famoso colo, que tem caído tanto em desuso ultimamente, diante das sentenças dos ‘especialistas’ e a ânsia dos pais para que os bebês não se tornem crianças manhosas... o que às vezes me cheira puro comodismo, para que possam liberar as mãos para fazer outras coisas.

E aí, o que eu acho é o seguinte: se fosse o colo o problema, seria fácil de resolver. Como diz um amigo, a coisa complica quando eles aprendem os verbos comprar e querer, e os pais não sabem dar medida disso. Aí sim, veremos o que é manha... Mas isso fica pra outro capítulo, afinal, eu ainda sou mãe de um bebezinho de um mês e não me deparei com essas questões...

Outro achado foi um pediatra inglês, salvo engano, chamado Harvey Karp, que desenvolveu algumas técnicas para criar condições semelhantes à vida no útero e acalmar bebês desconsolados. Ele publicou inclusive um livro, com DVD, chamado “The Happiest Baby on the Block”. O livro eu recebi um trecho de uma amiga mamãe e o DVD recentemente eu consegui uma cópia, que ainda não assisti.

Entre outras coisas, ele recomenda enrolar o bebê apertadinho num cueiro e fazer um som parecido com ‘shhh, shhhh’, que também pode ser substituído por uma torneira aberta, que relembra os ruídos de dentro da barriga da mãe. Essas duas dicas, somadas a um estratégico banho bem quentinho no fim da tarde, foram essenciais quando Luca passou uns dias muito agitadinho, e fez com que ele voltasse a dormir melhor – e me deixasse dormir também. Sim, porque pior que ver seu filho incomodado, é ter que lidar com isso num estado lamentável de cansaço... haja paciência e perseverança para não jogar a tolha...

(...)

Claro, como se isso fosse possível...

(...)

Não é, nem eu quero. Quero mais é aprender o que meu filho precisa e fazer o possível para atendê-lo. Hoje, ele é totalmente indefeso e precisa do mínimo. Sei que em breve  as necessidades mudarão, e as exigencias também, vindo junto um temperamento que ainda irá se formar. Tenho crença absoluta de  que tudo o que estou fazendo com ele hoje, irá se refletir nele e em nossa relação daqui a alguns anos, quiçá meses. Não quero que ele pense que precisa  se defender de mim, chorando. Quero que ele aprenda que não é preciso chorar para conseguir o que ele quer, que é possível estabelecermos uma relação em que ele utilize, hoje, suas lindas caras e bocas e, mais adiante, seus argumentos. E, se ele puxar à mãe, não faltarão argumentos para  conseguir o que deseja... 

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