segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

“Você vai conseguir?”


Essa foi a pergunta que escutei dias atrás quando disse a uma enfermeira, numa maternidade, que desejava dar banho no meu bebê quando ele nascesse. A cara dela, de espanto, veio seguida da pergunta, ao que respondi: “Claro! Por que não conseguiria?” e ela, muito sem graça, tentou disfarçar a indelicadeza que acabara de cometer.

Gafes hospitalares à parte, essa visita fez cair algumas fichas pra mim quanto ao momento de tirar Luca daqui de dentro.

Quando mostrei meu plano de parto à obstetra – logo vou compartilhá-lo por aqui – ela não se opôs a nada do que eu sinalizei, fez questão de explicar algumas coisas, desmistificar outras, enfim, foi super paciente com minhas perguntas e disse que, para ela, o parto normal sem intervenções é a regra, ainda mais com mulheres que, se informam e se preparam para este momento. Isso me deixou bem à vontade e tranqüila e, a despeito das minhas elocubrações sobre essa nova vida que está se formando dentro de mim, mais segura em relação a contrações, dores, e tudo o mais de bom e de ruim que eu ouço dizer que vem com o parto.

Uma das questões postas por ela foi, no entanto, com relação aos primeiros cuidados com o bebê. Quanto a esses, eu deveria pactuar com o pediatra que atendesse Luca quando ele nascesse, que em princípio seria o que estivesse de plantão no hospital no momento do nascimento. E a fala dela deixou transparecer que, se pra ela o parto normal, sem intervenções, é algo muito simples, o nascimento natural, sem intervenções não é bem assim. E, na ida à maternidade... bingo! Fiquei com a mesma sensação.

Que o parto se tornou um ato médico, cheio de mistérios para nós, simples mortais, leigas E mulheres, disso ninguém duvida. Que as enfermeiras ligam o automático na hora das intervenções, também não. Que há uma dúvida generalizada na sociedade a respeito da capacidade das mulheres de parirem seus filhos (como de fazerem outras coisas também), então, nem se fala. E que elas se espantem quando chega uma mocinha, junto com seu marido, também mocinho, dizendo que quer ter seu filho de parto normal, sem intervenções e no quarto (ao invés do centro obstétrico), bem, nada mais é que uma decorrência natural dessas afirmações.

Também é uma decorrência desses entendimentos que o nascimento é um ato médico e inclui intervenções sem necessidade clínica comprovada para todos os casos. Depois que li Lebouyer falando de como os bebês sentem o momento do nascimento, me convenci de que, quanto menos a criança for perturbada, melhor, inclusive para que o espaço entre nós dois, e o pai dele, possa se afirmar ainda nos primeiros instantes de vida (o que inclui, sim, o banho, oras!).

Sem falar que algumas coisas, Luca tem que ter o direito de escolher, como o dia de nascer, e o momento de começar a respirar (para o que ele precisa ficar ligado a mim pelo cordão até que este pare de pulsar...). É o mínimo de autonomia que se deve a essa vida que está chegando  - e que não pediu para vir, diga-se de passagem. Para mim, dar essa oportunidade a ele significa afirmá-lo enquanto um indivíduo, sujeito de direitos, desde o primeiro instante. E isso não é teoria barata. Isso é direito humano.

Ainda estou procurando pediatra e formando opinião, mas algumas coisas para mim são um princípio. Sei que o imponderável pode acontecer, e tudo ocorrer diferente do que eu desejo ou planejo, se minha vida ou a de Luca estiverem em risco. Só que isso, até o momento, não está nem perto de acontecer. Mesmo assim, quero deixar claro que não sou uma dessas doidas, extremistas, que acham que a tecnologia não pode estar a serviço do momento do nascimento. O que não vou aceitar, definitivamente, é estar a serviço de conveniências médicas e hospitalares, nem da arrogância baseada no mero conhecimento científico, sem evidências e sem a análise específica do caso com que se está lidando.

Eu e Luca não somos estatísticas, somos mãe e filho querendo, cada um, dar à luz e vir ao mundo da maneira mais serena e feliz que for possível.

E, sim, nós vamos conseguir.

ps. Por fim, quero compartilhar esse link, muito bacana, com algumas opiniões sobre o momento do parto que eu compartilho integralmente, além de uma entrevista com uma mãe de primeira viagem, como eu, que teve medos muito parecidos com os que eu estou sentindo nesses dias... mas que conseguiu superá-los.

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